PEÇAS DE ARQUITETURA - PEDRO JUK

FELIZ PÁSCOA

A pedra foi removida do túmulo da escuridão. A Luz surgiu e o Sol retornou ao hemisfério. Que a ressurreição da vida sirva como exemplo para os Homens. Que nos todos, no início da nova vida (Primavera no Norte), sejamos verdadeiros mensageiros de Paz e do respeito ao próximo. Que a passagem inciática seja mesmo uma Iniciação vivida. A ressurreição do Mestre é o camiinho indicado pelo Cordeiro de Deus. Não façamos disso apenas uma contemplação, porém que sejamos, à exemplo do Bom Pastor, capazes de viver essa passagem. Feliz Páscoa.


CÍRCULO, PONTO, PARALELAS TANGENCIAIS

SIMBOLOGIA MAÇÔNICA

O CÍRCULO, O PONTO E AS PARALELAS TANGENCIAIS.

I - INTRODUÇÃO.

Na profusão da edição de rituais e instruções maçônicas no Brasil, muitas questões têm se apresentado que ainda clamam por uma solução ou explicação satisfatória nesse particular, sobretudo pela inserção de instruções que não pertencem a esse ou aquele Rito e sua correspondente doutrina iniciática, levando-se em conta à vertente na qual pertença o costume maçônico.

É o caso, por exemplo, de uma questão que envolve dentro da simbologia maçônica o conjunto composto pelo Círculo, pelo Ponto e pelas Paralelas Tangenciais e ainda no contexto acrescido do Livro da Lei e da Escada de Jacó. Indiscriminadamente esse conjunto alegórico em não raras vezes tem habitado as instruções para o Aprendiz emanadas e alguns rituais brasileiros do Rito Escocês Antigo e Aceito como o exemplo do que segue:

"Em Loja Maçônica Regular, Justa e perfeita, existe um ponto dentro de um circulo, que o verdadeiro Maçom não pode transpor. Este círculo é limitado, ao Norte e ao Sul, por duas linhas paralelas, uma representando Moisés e outra o rei Salomão. Na parte superior deste círculo, fica o Livro da Lei Sagrada, que suporta a Escada de Jacó, cujo cimo toca o céu. Caminhando dentro deste círculo sem nunca o transpor, limitar-nos-emos às duas linhas paralelas e ao Livro da Lei Sagrada, e, enquanto assim procedermos, não poderemos errar".

O conteúdo acima foi motivo de consulta perpetrada por um Respeitável Irmão da COMAB, no que assim se manifestava naquela oportunidade: "Este texto tem gerado inúmeras discussões em Loja sem jamais chegarmos a uma interpretação adequada ou mesmo o seu significado filosófico".

II - COMENTÁRIOS

II.1 - VERTENTE INGLESA DE MAÇONARIA

Embora o Círculo entre as Paralelas Tangenciais seja um conjunto simbólico eminentemente genérico na Maçonaria universal, a sua composição junto como o Altar, com a Escada de Jacó e com o Livro da Lei Sagrada, além da menção aos personagens bíblicos de Moisés e de Salomão, é um conjunto alegórico pertencente à Tábua de Delinear[1] inglesa do Primeiro Grau, portanto não são componentes do Painel do Grau de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, Rito esse de vertente francesa, a despeito de que em se tratando do conteúdo simbólico de ambos (da Tábua e do Painel), aparecem significativas diferenças.

Devido à existência dessas distinções litúrgicas e ritualísticas entre os dois principais sistemas doutrinários maçônicos (embora o escopo seja único - o de reconstruir e aprimorar o Homem) - surgem então às anfibologias e as incompreensões sobre esse conteúdo, sobretudo quando pertinente às instruções e catecismos maçônicos se equivocadamente generalizados.

Na concepção inglesa (teísta), por exemplo, esse conjunto no momento em que é composto pelas paralelas tangenciais, pelo círculo e pelo ponto, dentre outros, representa também a Lei (do patriarca Moisés) e a Sabedoria (do rei Salomão).

À bem da verdade, esse conjunto simbólico é fruto haurido da Moderna Maçonaria e sacramentado através das Lições Prestonianas (William Preston[2]), além de outras interpretações relacionadas à mencionada alegoria, efetivamente a partir do primeiro quartel do Século XIX, inclusive quanto à alusão aos personagens bíblicos do Antigo Testamento, Moisés e Salomão, já que os nomes dessas personalidades se dariam em substituição aos tradicionais santos patronais João, o Batista e João, o Evangelista devido à decisão da Grande Loja em transformar a Maçonaria em uma instituição não sectária na Inglaterra, nesse particular sob o ponto de vista religioso[3].

Naquela oportunidade então é que seria recomendado na medida do possível para que as novas Tábuas de Delinear não contivessem símbolos associados ao Cristianismo. Nesse sentido, por exemplo, é que o título Bíblia seria designado simplesmente como o "Volume das Sagradas Escrituras". Essa aparente descristianização dos catecismos maçônicos seria um dos motivos principais que levaria às escaramuças entre os Antigos e os Modernos relativos às duas Grandes Lojas rivais à época na Inglaterra.

Obviamente que ao longo desses acontecimentos, longe da unanimidade, muitos símbolos cristãos ainda assim permaneceriam como integrantes desse corolário alegórico particular à Maçonaria Inglesa. É o caso da Cruz que identifica a Fé como virtude teologal, colocada no primeiro lance da Escada de Jacó em direção ao céu, sobejamente conhecida na composição do "Tracing Board" (Tábua de Delinear) do primeiro Grau do Craft inglês nos Trabalhos de Emulação (equivocadamente chamado no Brasil como Rito de York).

Nesse conjugado alegórico o Circulo entre as Paralelas Tangenciais é exposto na Tábua de Delinear aparecendo como uma espécie de base, alicerce ou arrimo que dá apoio ao Volume da Lei Sagrada que, por sua vez é o sustentáculo da Escada de Jacó.

Dentre outras exegeses pertinentes para esse conjunto alegórico, a mais comum encontrada é a que se destaca a seguir:

O Circulo entre as paralelas expressa os limites impostos pela Sabedoria daquele que cumpre a Lei. Essa é a base (Altar) onde descansa o código de moral e ética (Volume das Sagradas Escrituras), cujo caminho avulta a ascensão do Obreiro ao aperfeiçoamento. É o que sugere a Escada em cujo topo aparece uma Estrela de Sete Pontas (sete - a Fé, Esperança e Caridade somadas à Justiça, Prudência, Temperança e Coragem). O interior do Círculo representa o espaço limitado pelos ditames da obediência à Lei exarada no Volume da Lei Sagrada. Em linhas gerais denota que aquele que segue os ditames da Lei, não pode errar.

Para ilustrar essa interpretação, também fica aqui transcrito um trecho do livro Master Key de autoria de John Browne datado de 1.802 com perguntas e respostas pertencentes à Primeira Preleção com base Prestoniana que serve de apoio para justificar de onde fora retirado o conteúdo textual mencionado no ritual da COMAB citado na introdução desse arrazoado e que é o motivo principal desses apontamentos. Esse mesmo texto também pode ser encontrado no livro Simbolismo na Maçonaria, Colin Dyer, publicado no Brasil pela Madras Editora Ltda., São Paulo, 2.006.

"(...) Perg: Qual é o primeiro ponto da Maçonaria? Resp: O joelho esquerdo despido e dobrado. Perg: No que incide esse primeiro ponto? Resp: Na posição ajoelhada me foi ensinado a amar o meu Criador. Sobre o meu joelho esquerdo nu e dobrado eu fui iniciado na Maçonaria. Perg: Existe algum ponto principal? Resp: Sim, o de podermos fazer um ao outro feliz e ainda transmitir aquela felicidade para outro. Perg: Existe algum ponto central? Resp: Sim, um ponto no interior do círculo, do qual o Mestre e os Irmãos não podem materialmente errar".

Eis aí então a origem dessas citações nas instruções maçônicas, lembrando sempre que elas realmente se adequam aos catecismos da vertente inglesa de Maçonaria.

Ilustrando ainda mais, segue a sequência do texto mencionado nesse catecismo conforme a mesma obra citada:

"(...) Explicai esse ponto no interior do Círculo. R. Nas Lojas regulares de Francomaçons existe um ponto no interior de um círculo, ao redor do qual o Mestre e os Irmãos não podem materialmente errar. O círculo é limitado ao Norte e ao Sul por duas linhas perpendiculares paralelas: a no Norte representa São João Batista, e a do Sul simboliza São João Evangelista. Nos pontos de cima destas linhas e no perímetro do circulo, está colocada a Bíblia Sagrada, sobre a qual se apoia a Escada de Jacó, que alcança as nuvens do céu. Aí também estão contidos as Ordens e os Preceitos de um Ser que é Infalível, Onipotente e Onisciente, de tal forma que, enquanto estivermos no seu interior e obedientes a Ele, como foram João Batista e João Evangelista, seremos levados a Ele e não nos decepcionaremos nem O frustraremos. Portanto, ao nos mantermos assim circunscritos será impossível a que venhamos errar materialmente".

Como se pode notar o texto tem a intenção de explicar à instrução onde o termo "circunscrito" representa o limite imposto pelo Círculo, cujo "ponto central" é a origem donde o Maçom por primeiro dobrou o joelho esquerdo apoiando-o no chão e se sujeitando no ato à "obrigação" (também conhecida na vertente latina como juramento) de cumprir os deveres impostos e à promessa perpetrada - o Livro da Lei é o Código de Moral e Ética; o Círculo é o limite; o Ponto é a origem e a Escada o caminho para o aperfeiçoamento[4]. Assim, isso significa que se bem observada a Arte e ressalvados os limites da Lei, o Maçom não pode errar.

Ainda em relação ao texto acima mencionado, há que se notar também que à época ainda era citado na Inglaterra a Bíblia Sagrada, assim como os nomes dos Santos patronais cristãos, muito embora já no primeiro quartel do Século XIX não tardariam esses títulos a serem substituídos - a Bíblia seria denominada como o Volume da Lei Sagrada, e cada Santo padroeiro passariam a ser um dos personagens bíblicos do Antigo Testamento - Moisés e Salomão.

II.2 - R.'.E.'.A.'.A.'. - VERTENTE FRANCESA DE MAÇONARIA.

Dadas essas considerações, entra finalmente na questão o Rito Escocês Antigo e Aceito que, embora até possua em muitas das suas características influências históricas anglo-saxônicas (o título Antigo, por exemplo), sobretudo porque o seu simbolismo sofrera influência direta das Lojas Azuis norte-americanas que pratica o Craft oriundo da Grande Loja dos Antigos da Inglaterra, vale a pena lembrar que mesmo assim o Rito Escocês é historicamente originário da vertente francesa da Maçonaria.

Sob essa óptica, o arcabouço doutrinário francês de Maçonaria, principalmente aquele relativo ao simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito, nele envolve o aperfeiçoamento humano que é simbolicamente representado pela alegoria da ressurreição e morte da Natureza, bem como a sua constante renovação (cultos solares da Antiguidade).

Assim o simbolismo do Rito Escocês aborda e encena a evolução da Natureza. Nesse particular teatro iniciático aparece representada na sua liturgia e ritualística os solstícios e os equinócios, os ciclos Naturais ou as estações do ano, as Colunas Zodiacais, as Colunas Solsticiais B e J (marcam a passagem dos trópicos de Câncer e Capricórnio), assim como as Colunas do Norte e do Sul que são separadas no Templo pelo eixo imaginário do Equador.

Nesse particular, o REAA por ser um Rito de origem francesa o mesmo não usa o título distintivo de Tábua de Delinear, entretanto faz uso no seu lugar do nome de Painel da Loja que fica situado e exposto originalmente em Loja aberta no centro do Ocidente. Entretanto, se faz mister observar que no conteúdo simbólico desse Painel da Loja do REAA\ não existe a figura da Escada de Jacó e nem aparece o Círculo com o Ponto ao centro entre as Paralelas Tangenciais, daí não combinar qualquer instrução que porventura possa fazer menção a esses símbolos relacionados ao franco maçônico básico do escocesismo - essa conduta doutrinária, se por acaso mencionada, além de equivocada não faria mesmo qualquer sentido.

Devido a não observação correta desses particulares - já que nem tudo o que reluz é ouro - é que em busca do significado simbólico ainda existem referimentos como: "Este texto tem gerado inúmeras discussões em Lojas sem jamais chegarmos a uma interpretação adequada ou mesmo o seu significado filosófico".

Desse modo, infelizmente é verdadeiro comentar que alguns autores e ritualistas brasileiros, talvez por mera falta de atenção, ainda insistem inadvertidamente em misturar procedimentos de vertentes maçônicas distintas nas suas instruções.

Desse modo se explica que a falta de sentido dessa inferência é que faz com que jamais se chegue a uma interpretação adequada ou mesmo o seu significado filosófico (é a queixa de muitos).

Essas ilações ainda são o sustentáculo para a propagação, através de certos autores imaginosos, de verdadeiras pérolas do faz-de-conta, geralmente suportadas por palavras bonitas que em superficial análise acabam por não fazer sentido algum - palavras mais palavras e palavras... Vazias ao vento.

Não obstante a toda essa aleivosia histórica e ritualística, ainda existe outra classe - a daqueles que "acham bonito", ou que simplesmente "copiam" rituais anacrônicos imaginando-os como fontes primárias e fidedignas. É o caso, por exemplo, do enxerto de toda a Tábua de Delinear, que é da doutrina inglesa, no Rito Escocês que possui sabidamente preceito francês.

Daí, como se o sol pudesse ser tapado com a peneira e na tentativa de se justificar toda essa aberração se utilizando a lei do menor esforço, identificou-se o intruso objeto como o tal do "Painel Alegórico", o que só fez aumentar ainda mais a cinca oferecendo absurdamente para o escocesismo simbólico a existência equivocada de "dois painéis" - um legítimo (o da Loja) e o outro como produto de enxerto oriundo de outra vertente maçônica (o tal justificado como Alegórico).

Ora, isso evidentemente não existe e é produto de mera enxertia imposto por "achistas", já que o Rito Escocês genuinamente possui apenas o Painel da Loja no centro do Ocidente e não mais outro painel que, ainda por cima, seja denominado de "alegórico" (sic).

Para que não pairem dúvidas, evidentemente o estudante de Maçonaria deve conhecer o Painel da Loja (sistema Francês) e a Tábua de Delinear (sistema Inglês). Em linhas gerais, no grau de Aprendiz, o primeiro é aquele que, dentre outros símbolos, destaca-se por apresentar um pórtico ladeado pelas Colunas B e J (vide ritual do GOB, edição 2.009, por exemplo). Enquanto que a segunda (a Tábua) é aquela que destaca dentre outros símbolos, três Colunas, tendo ao centro uma Escada em direção ao firmamento em cujo topo se apresenta uma Estrela Heptagonal (vide ritual de Emulação).

Nesse sentido, quando misturados os conteúdos simbólicos, a mixórdia acaba por trazer consigo instruções inglesas para dentro da doutrina francesa de Maçonaria. Aliás, esse é um fator deveras importante que todo o estudante da Ordem precisa saber distinguir: existem duas vertentes principais de Maçonaria - uma inglesa e outra francesa. Embora o objetivo da Sublime Instituição seja um só, os métodos doutrinários se diferem conforme a respectiva vertente - tanto pela visão social, quanto pela visão cultural.

Retomando essa questão.

Embora nos três Graus simbólicos do Rito Escocês cada respectivo Painel da Loja não apresente literalmente o símbolo do Círculo entre as Paralelas Tangenciais, a doutrina por si só ao mencionar a alegoria da evolução da Natureza, de modo abstrato acaba, sem mostrar os símbolos, por se referir ao Sol (Círculo) e aos trópicos de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul (limites solsticiais).

Explica-se: como as datas solsticiais de 24 de Junho e 27 de Dezembro aludem respectivamente aos solstícios de inverno e de verão no hemisfério Norte (origem do Rito) ainda, por extensão, coincidem por influência da Igreja com as datas comemorativas a João, o Batista (verão no Norte) e com João, o Evangelista (inverno no Norte).

Assim, essa alegoria maçônica no Rito envolve toda a evolução da Natureza associando-a as etapas da vida humana - Primavera, Verão, Outono e Inverno, ou o nascimento, a infância, a juventude, e a maturidade, tudo distribuído de modo iniciático nos Graus de Aprendiz (puerícia), Companheiro (puberdade) e Mestre (maturação).

Por assim ser, mesmo de modo oculto, o Círculo entre as Paralelas Tangenciais pode representar também o Sol entre os Trópicos indicando que, conforme os solstícios, o Astro Rei, sob o ponto de vista da Terra, estando mais ao Norte ou mais ao Sul nunca ultrapassará na sua eclíptica anual o limite indicado pelos os trópicos.

Sob essa óptica, não significa de maneira alguma que esses símbolos careçam estar literalmente expostos no Painel relativo ao arcabouço doutrinário francês.

Simbolicamente no Templo o Sol também é o centro (onde existe a circulação) que fica entre as Colunas do Norte e do Sul, cujo limite deste deslocamento, seja ele austral ou boreal, está representado pela marcação da passagem abstrata (sem base material) dos trópicos de Câncer e Capricórnio. Daí as Colunas B e J, também conhecidas como "solsticiais", serem os marcos toponímicos que marcam a passagem dos aludidos Trópicos no Templo - sob o ponto de vista da porta de entrada para o Oriente, ao centro está à linha imaginária do Equador, à esquerda, marcada pela Coluna B, está à linha imaginária correspondente ao Trópico de Câncer e à direita, balizada pela Coluna J, a correspondente ao Trópico de Capricórnio.

O Sol ao tangenciar o limite de Câncer (solstício de verão no Norte) corresponde à data comemorativa ao santo padroeiro João - o Batista, enquanto que ao tangenciar o limite de Capricórnio (solstício de Inverno no Norte) corresponde à data comemorativa ao Santo padroeiro João, o Evangelista.

Essa alegoria sugere no Rito em questão que a consciência do Homem, limitando-se tal qual às Leis da Natureza, é inviolável, já que ele, o Homem, é também parte integrante dessa Ordem Natural perpetrada pela Criação (um conceito deísta).

No escocesismo a Loja simbolicamente representa um segmento do Globo Terrestre situado sobre o Equador, cuja largura vai do Norte ao Sul ou vice-versa e o seu comprimento de Leste para o Oeste ou vice-versa. A sua altura vai da Terra (Pavimento Mosaico) ao Céu (Abóbada).

É sobre esse espaço (Oficina) que a Terra simbolicamente fica viúva do Sol uma vez por ano (inverno). À bem da verdade é o processo da evolução da Natureza a partir do seu renascimento na Primavera até a sua morte no Inverno para novamente renascer na Primavera (Lenda de Hiran). Assim comparativamente e de modo iniciático, tal como a Natureza que morre para renascer como a fênix revivida, também o Homem profano fenece para renascer iniciado na Luz - da câmara de Reflexão à Exaltação do Mestre (a senda iniciática).

III - COSIDERAÇÕES FINAIS.

Em linhas gerais essas são as interpretações que envolvem a alegoria composta pelo Círculo entre as Paralelas Tangenciais nos dois sistemas de Maçonaria abordados, todavia somente ficam passíveis de uma explicação racional se devidamente separadas conforme as suas tradições, usos e costumes nos diversos rincões terrenos onde se apresenta a Sublime Instituição - cada coisa no seu devido lugar ou haverá o caos no Canteiro.

É oportuno aqui mencionar uma contradição que não raras vezes aparece no escocesismo quando muitos Irmãos, de modo anacrônico, ainda insistem em comparar a evolução dos Graus com os "degraus da Escada de Jacó" que, diga-se de passagem, nem mesmo aparece como elemento simbólico na doutrina do Rito Escocês.

Pior ainda é querer definir o número de degraus que formam essa Escada quando nem mesmo na Bíblia, essência da doutrina moral como Livro da Lei, essa quantidade é mencionada.

É o caso, por exemplo, quando alguém congratulação menciona o ultrapassado jargão: "parabéns por teres conseguido alcançar mais um degrau da Escada de Jacó".

Ora, sem apelar para o preciosismo, não existe nada mais contraditório do que comparar a ascensão aos Graus com os degraus de uma escada que nem mesmo é parte integrante da doutrina simbólica do escocesismo.

Diferente do Círculo e das Paralelas que mesmo de modo abstrato chegam a fazer sentido no corolário doutrinário do Rito Escocês, a Escada, nem mesmo em caráter contemplativo, é mencionada na alegoria dos Painéis do verdadeiro escocesismo.

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

OUT/2014


ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO AUXILIAR:

DYER, Colin - Simbolismo na Maçonaria, Editora Madras, São Paulo.

CARVALHO, Francisco de Assis - Símbolos Maçônicos e Suas Origens, Volumes I e II, Editora Maçônica A Trolha, Londrina - Pr.

LOMAS, Robert - O Poder Secreto dos Símbolos Maçônicos, Editora Madras, São Paulo.

MELLOR, Alec - Dicionário da Franco Maçonaria e dos Franco Maçons, Editora Marins Fontes, São Paulo.

JUK, Pedro - Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom - Tomo I, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, Paraná.

JUK, Pedro - Topografia e Simbolismo do Templo REAA, Ensaios, Diário JB NEWS, Florianópolis, Santa Catarina.

JUK, Pedro - São João e os Solstícios na Maçonaria, Ensaios, Diário JB NEWS, Florianópolis, Santa Catarina.

NOTAS

[1] O Painel na Inglaterra denomina-se Tabual de Delinear ou de Traçar (Tracing Board). Já na França é denominado como Painel do Grau. O conteúdo simbólico entre ambos aparecem sensíveis diferenças.

Alguns autores acreditam que o nome "Tábua de Delinear" se derive como uma corruptela do antigo "cavalete" (tressel) ou Prancha de Traçar (Tracel ou Tracing Board) geralmente usada nas Lojas no final do século XVIII que objetivava apresentar os hieróglifos maçônicos, cuja Prancha ou Tábua muitas vezes nas Lojas ficava disposta sobre um cavalete no centro.

[2] Willian Preston (1.742 - 1.818) - Nascido em Edimburgo na Escócia, foi iniciado em Londres no ano de 1.763. De carreira maçônica fecunda e brilhante assumiu o veneralato da Loja Antiquity nº 1 (atualmente nº 2) considerada à época como "Loja dos Tempos Imemoriais". À Preston e dado o título simbólico de ter sido ele o primeiro professor de Maçonaria, permanecendo ainda ligado aos seus Ilustrations of Freemansonry (Esclarecimentos dobre a Franco-Maçonaria), cuja primeira edição data de 1.772. Essa importante obra teve dezessete edições, das quais doze durante a vida do autor. Falecido em 1.818 foi sepultado na Catedral de São Paulo em Londres. Os Ilustrations of Freemansonry se constituem de uma coletânea de conferências eruditas e de alto valor literário para uso das Lojas. É devida ainda a William Preston a autoria das famosas Prestonian Lectures (Lições Prestonianas) que permanecem atuais e são base para conferência de notáveis sobre assuntos instrutivos de interesse maçônico. A coletânea das Lições Prestonianas é publicada pela Quatuor Coronati Lodge, 2.076 de Londres. As dissertações sobre o conteúdo das Tábuas de Delinear inglesas se baseiam nas mensagens Prestonianas. O termo "Prestoniano" deriva-se em homenagem a Preston.

[3] Além da disposição contrária ao sectarismo religioso, a Grande Loja se posicionava também contrária ao sectarismo político. Essa é a origem da proibição de discussões que envolvam política e a religião nos Templos e em nome da Maçonaria presente até os dias atuais na imensa maioria das Constituições das Obediências Maçônicas.

[4] A ascensão ou subida dos degraus dá a ideia de evolução e aperfeiçoamento.


TELHAR OU TROLHAR?

Essa duplicidade de título como condição aplicada principalmente na Maçonaria latina e na brasileira em particular, tem sido constantemente abordada dentro da Ordem. Nesse sentido, rios e rios de tinta já foram derramados, embora insistentemente ainda prevaleçam desacordos quanto ao uso correto de um vocábulo, nesse caso, Telhar ou Trolhar.

Na intenção de trazer mais luzes ao tema, e com embasamento na pesquisa séria e desinteressada em agradar esse ou aquele leitor, é que aqui seguem mais algumas ponderações que visam abordar o uso racional e propício para os títulos em questão.

Com a finalidade de conhecer a origem do título que dá nome a prática maçônica de examinar, ou verificar a qualidade de alguém, se faz imperioso retroceder aos tempos da Maçonaria Operativa nos séculos XIV, XV, XVI e parte do século XVII, época que os "pedreiros livres" eram literalmente construtores de igrejas, catedrais, abadias, castelos, obras públicas, etc., que davam, principalmente pela influência da Igreja-Estado, um cunho religioso ao trabalho. Paulatinamente, com o advento da aceitação (Maçonaria Especulativa) ia se estabelecendo um sistema doutrinário simbólico velado por símbolos e alegorias, cujo objetivo foi o de estabelecer o aparelhamento moral e ético aplicado pela Ordem.

As Corporações de Ofício, ancestrais da Moderna Maçonaria, reuniam-se naquele período nos próprios canteiros das obras e nos adros das igrejas. Posteriormente viriam a se agrupar em lugar reservado (coberto) nas tabernas onde discretamente eram realizados os trabalhos.

Uma das características dessas Confrarias que, por motivos iniciáticos perduram até hoje, e por nós bem conhecidos, foi a de que apenas os regularmente aceitos na Maçonaria participassem dos trabalhos, o que em primeira análise significa que não eram permitidos não iniciados a participar de uma sessão Maçônica. É daí o costume de se mencionar em Loja que "os nossos trabalhos estão cobertos" como uma das condições para a abertura da Loja - o sigilo é um dos Landmarks da Ordem.

Em síntese essa prática viria também dar origem a um importante cargo na Moderna Maçonaria, o do Cobridor Interno ou Externo, ou ainda o Telhador, dependendo da vertente maçônica (inglesa ou francesa). Na verdade, além de ter o ofício de guardar a porta do Templo esse oficial também examina a autenticidade e regularidade de um Maçom que pede autorização para ingressar nos trabalhos.

Na intenção de esclarecer o porquê do uso na Maçonaria dos termos "cobrir, cobertura, telhamento (que é um neologismo maçônico), telhador e cobridor" vai o seguinte comentário: era costume naquela época que quando se descobria alguém não iniciado (cowan) [1] espionando os trabalhos maçônicos, ou mesmo tentando ingressar por meio ilícito no recinto, o bisbilhoteiro sofria o castigo de ser amarrado e colocado debaixo das calhas das águas pluviais para que ele tomasse um belo banho de água gelada (destacando-se que a Maçonaria floresceu na Grã-Bretanha, onde geralmente a temperatura média anual é bastante baixa). Esse corretivo era aplicado inclusive aos maçons bisbilhoteiros que, por não possuírem ainda qualificação para participar de um trabalho específico, tentavam burlar a vigilância para ingressar na Loja e satisfazer a sua curiosidade.

Em se tratando ainda das Corporações de Canteiros Medievais, faz-se necessário esclarecer que naquela época ainda não existia o grau especulativo de Mestre, porém existia o Mestre da Obra que era um Companheiro do Ofício (Fellow Craft) experimentado e proprietário do canteiro.

Dentro do mote maçônico de que trata as palavras cobrir, cobertura e cobridor vem a elas associado o termo "telhador" (em inglês: tiler).

Em Maçonaria, Tiler (do substantivo tile - telha em inglês) é o oficial que executa o trabalho de verificar a autenticidade e regularidade daquele(s) que se apresenta(m) aos trabalhos de uma Loja, não permitindo que "chova" ou tenha "goteira" no ambiente. Alude também aos cowans que tentavam espiar ou participar dos trabalhos maçônicos e que, quando descobertos, eram castigados recebendo um banho nas águas geladas das calhas - é das calhas e dos telhados que resultam as goteiras.

Historicamente esse costume maçônico chegou até os dias de hoje com a preservação dos usos e costumes, obviamente que não amarando espiões debaixo das calhas, mas cobrindo o Templo contra profanos (não iniciados) e Irmãos que eventualmente não possuam grau suficiente para participar dos trabalhos.

Por assim ser é que existe nos ritos da Moderna Maçonaria o ofício de verificar a cobertura, cujo cargo destina-se ao Cobridor, ao Guarda-Externo e às vezes aos Expertos. Pela sua associação com a cobertura do recinto o ofício também é conhecido como Telhador, derivando-se daí o termo telhar. Não há que se estranhar o uso desses vocábulos tratando-se de Maçonaria, até porque o ideário maçônico relaciona-se simbolicamente com a arte de construir, cuja alegoria da cobertura nos ensina que o edifício se cobre com telhas - daí o termo e o ato de telhar.

O ofício de telhar em Maçonaria significa examinar alguém por toques, sinais e palavras com objetivo de verificar a sua qualidade maçônica, portanto é figuradamente a coberturaque cobre o Templo afastando profanos ou mesmo maçons que não alcançaram ainda qualificação para participar de uma determinada sessão - cobrir significa não permitir goteiras no recinto.

É oportuno lembrar que existem determinadas situações pelas quais o Templo deve ser coberto a algum Irmão pelo tempo que se fizer necessário, mesmo àqueles que estejam participando dos trabalhos na Loja. Se esse fato acontecer, determina-se que o Templo seja coberto a alguém, nunca que esse alguém cubra o Templo, pois quem cobre o edifício é o Cobridor e quem se retira do recinto é aquele que tem para si o Templo coberto. Assim, por exemplo, como acontece em algumas situações que a Loja precisa mudar o grau de trabalho, não são os Aprendizes em retirada que cobrem o Templo, porém é o Templo que para eles ficará coberto (à saída deles o Cobridor fecha a porta).

Não obstante a lógica dos fatos que associa a cobertura contra goteiras ao telhamento (neologismo maçônico), ainda alguns insistem no equívoco em associá-lo ao substantivo feminino trolha como se o ato de trolhamento fosse à prática da cobertura maçônica, isso porque alguns autores despercebidos do passado simplesmente confundiram "telhamento" com "trolhamento".

A trolha (do latim: trullia), longe de ser um objeto que sirva para cobrir alguma coisa, é uma espécie de pá em que o pedreiro põe a argamassa da qual vai se servindo durante a construção. Ela serve também para alisar o reboco de argamassa que vai sobre a parede. No Brasil designa-se igualmente como a desempoladeira ou a desempenadeira. Em Maçonaria, como substantivo masculino, designa o pedreiro ordinário; o servente de pedreiro. Figuradamente menciona o homem sem préstimo ou sem importância; o pobretão.

Segundo Allec Mellor a trolha era utilizada pelos maçons operativos para amassar a argamassa destinada a cimentar as pedras do edifício durante a construção. Simbolicamente, na Maçonaria, a trolha nos ensina a cimentar os laços de afeição e de benevolência que une todos os membros da família maçônica. É o símbolo da tolerância e indulgência, pois alisando, ela apara todas as arestas e imperfeições que porventura possam existir nas paredes do templo interno de cada um dos maçons.

Esses conceitos compõem a Maçonaria porque ela é uma Construtora Social e como tal absorveu inúmeros símbolos relacionados às ferramentas da arte da construção, das quais a trolha possui um importante significado simbólico. Muitos pesquisadores sérios e compromissados com a autenticidade defendem a tese de que a trolha seria a colher do pedreiro, talvez graças à etimologia da palavra.

Citando José Castellani: seja ela a colher do pedreiro ou a desempenadeira - conforme definição registrada por bons dicionaristas do idioma vernáculo - o seu significado é o mesmo, pois uma de suas funções é a de alisar a argamassa aparando as suas rugosidades, sendo simbolicamente usada como meio de apaziguar obreiros em litígio, aparando assim as arestas existentes, sendo este apaziguamento determinado por outro neologismo[2] maçônico - o trolhamento, já que trolhar (outro neologismo) significa passar a trolha.

Procurei aqui condensar alguns apontamentos que achei oportunos, levando-se em conta o significado das palavras, cujo objetivo é o de tirar uma conclusão de como nominar o ato de cobertura do Templo - telhar ou trolhar?

Infelizmente no Brasil alguns pesquisadores e estudantes da Arte Real ainda não tomam o devido cuidado com a bibliografia consultada incluindo-se ai pesquisa em certos rituais do passado que propagam equívocos e influenciam até agora rituais do presente. Essas atitudes só proliferam a Ordem com concepções anacrônicas. Assim é que ainda aparecem expressões como a do trolhamento para definir do ato de se verificar a autenticidade e a regularidade de um Maçom. Lamentavelmente até bons dicionários de Maçonaria, que merecem uma revisão, ainda tratam nas suas páginas com analogia o ato de telhar e trolhar. Ora, por mais ginástica mental que seja possível fazer, os termos possuem significados completamente distintos. Se existe algo de comum entre eles é apenas o fato de que ambos são usados pela Maçonaria.

Na razão dos fatos, a telha cobre e a trolha alisa.

O Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, por exemplo, menciona: estar debaixo da telha é estar a coberto.

Dado ao exposto, pergunta-se: Cobre-se o Templo com telhas ou com trolhas?

Se mesmo assim ainda alguém possa imaginar um Templo coberto com trolhas, melhor seria então que fosse mudado também o nome de Cobridor para Trolhador.

Como última ponderação, deixo aqui o seguinte apontamento: o Cobridor ao examinar alguém pelos Sinais, Toques e Palavras estará cumprindo o ofício de cobrir o Templo contra eventuais fraudes. Ele estará assim fazendo o telhamento, pois a telha cobre. Agora a trolha... Alisa.

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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NOV/1999

REVISÃO - MARÇO/2017


BIBLIOGRAFIA E ROTEIRO PARA PESQUISA.

FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio, Dicionário de Maçonaria.

PALOU, Jean - A Francomaçonaria Simbólica e Iniciática.

CARVALHO, Francisco de Assis - Maçonaria, Usos e Costumes.

CASTELLANI, José - Dicionário Etimológico Maçônico.

VAROLLI, Theobaldo Filho - Curso de Maçonaria Simbólica.

CASTELLANI, José - Dicionário de Termos Maçônicos.

MELLOR, Alec - Dicionário da Franco Maçonaria e dos Franco Maçons.

BURNS, Robert - The Freemasons.

SMYTH, Frederick - A Reference Book for Freemasons.

HAMILL, John - The History of English Freemasonry.

KENNEDY, Willian - Freemasonry: A Possible Origin.

LONGMAN, English Dictionary.

NOTAS

[1] Cowan - palavra oriunda de um dialeto da Escócia Medieval e significa: aquele que constrói paredes sem argamassa. Em simples análise o termo significa o picareta, o sem qualificação. No que diz respeito à Maçonaria é o não iniciado ou aquele que não possui qualificação para exercer o ofício ou participar dos trabalhos.

[2] Neologismo - Palavra ou expressão nova numa língua.


ABÓBADA DO TEMPLO - REAA

TEMPLO MAÇÔNICO - ABÓBADA

RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

I - INTRODUÇÃO

ABÓBADA - Substantivo feminino (do latim: volvita = revirada) - é entre outras coisas, o teto arqueado e tudo o que é convexo e arredondado, na superfície exterior, e côncava e arqueada na parte interior. Para alguns Ritos Maçônicos o teto de uma Loja é normalmente arqueado para simbolizar o firmamento, já que o Templo representa simbolicamente e invariavelmente uma sessão da Terra, mais precisamente localizado sobre o equador terrestre e é representado por um quadrilongo[1], cujo comprimento (longitudinal) é orientado de Leste para Oeste ou do Oriente para o Ocidente e a sua largura de Norte a Sul (Colunas do Norte e do Sul), determinada pelo eixo longitudinal representado pelo equador que divide a Terra em dois hemisférios. A abóbada representa exatamente o céu ou firmamento sob o ponto de vista daquele que do hemisfério norte terrestre olha para céu.

Em se tratando de um Templo Escocês, a decoração do teto ou abóbada é geralmente estelar e esse costume tem como base originária o Antigo Egito, onde o exemplo mais belo e evidente dessa decoração pode ser observado no Templo de Carnac (Luxor). Todas as formas das partes arquitetônicas dos Templos Egípcios eram determinadas mais pelo seu aspecto simbólico do que propriamente pela sua função estética, já que os Templos representavam uma imagem simbólica do mundo, com o teto representando o firmamento, e o piso a Terra da qual brotavam colunas, como gigantescos papiros.

Atenção: A citação acima procura demonstrar apenas a origem do hábito de se estelar o teto, portanto não se está aqui afirmando que existisse Maçonaria, e muito menos Rito Escocês no Antigo Egito nessa época. Essa exposição tem apenas o caráter de explicar a origem de um costume que, pelo ecletismo maçônico acabou fazendo parte do arcabouço doutrinário da Ordem, levando-se sempre em consideração que a Franco-Maçonaria surgiu apenas na Idade Média cujas origens e elos estão dispostos entre as Associações Monásticas Medievais e posteriormente às Confrarias Leigas. Já o Rito Escocês Antigo e Aceito, teve sua origem no século XVIII, mas nunca como o nome definido de Rito Escocês, o que ocorreria somente em 31 de maio de 1.801 na cidade de Charleston, na Carolina do Sul nos Estados Unidos da América do Norte sobre o paralelo 33 da Terra.

A despeito dessas considerações e embora muitos Templos Maçônicos tenham o seu teto estrelado a esmo, fato considerado errado, o mesmo deve ser decorado, além das representações específicas como veremos adiante, obedecendo à posição relativa ao hemisfério norte, isso pelo simples fato de que a Maçonaria nasceu no referido hemisfério e, pelo seu aspecto apenas simbólico deve assim obedecer a essa orientação. Querem alguns tratadistas imaginosos, considerar que para aqueles Templos localizados no hemisfério sul, seja obedecido o mapa estelar do respectivo hemisfério. Ora, em primeiro lugar a Maçonaria Universal (Simbólica) não pode ser considerada diferenciada se praticada nesse ou naquele hemisfério, pois ela é única, exclusivamente simbólica e, sobretudo racional, diferenciando-se apenas pelas particularidades inerentes a cada Rito praticado, porém, igual em essência. Dessa forma, não há a necessidade de invenções fantasiosas, místicas e ocultas que buscam amparo em qualquer tipo de influência dos astros ou coisa parecida. Destarte, deve se observar a "liberdade" como princípio basilar da Ordem, que nesse caso, refere-se à crença pessoal de cada Irmão. Em segundo lugar, qualquer inversão de posições dentro de um Templo, implicaria na inversão total do seu conteúdo simbólico, afetando diretamente o arcabouço moral e doutrinário do Rito em questão, colocando em risco as orientações que primam pela racionalidade, a despeito daquelas repletas de imaginação e fantasia.

Nota importante: A presente Peça de Arquitetura refere-se ao Rito Escocês Antigo e Aceito apenas nos Graus Simbólicos, todavia, esses conceitos podem ser aplicados à Maçonaria Simbólica Universal de uma forma geral, desde que sejam respeitadas as particularidades de cada Rito na sua tradição e essência doutrinária, bem como aqueles que por ventura também façam uso do conjunto simbólico em questão.

II - CONTEÚDO ESTELAR DA ABÓBADA

Quanto à cor da abóbada, esta deve ser azul celeste, podendo, entretanto, nela haver uma gradativa mudança da tonalidade mais clara para o Oriente e mais escura para o Ocidente - representação da aurora e do ocaso do Sol.

Estarão representados na abóbada o Sol e a Lua, as constelações de Orion, Híadas, Plêiades e Ursa Maior, os planetas Mercúrio, Vênus, Júpiter e Saturno e as cinco estrelas: Arcturus (da constelação Bootes), Spica (da constelação Virgem), Aldebaran (da constelação Taurus), Régulus (da constelação Leão) e Fomalhaut (da constelação Piscis Austrinus), além da estrela Antares (na constelação de Scorpius).

II.1 - LUMINÁRIAS

O SOL e a LUA - o primeiro estará no Oriente e a segunda no Ocidente, mostrando com isso a transição do dia (Oriente) para a noite (Ocidente). É importante se observar que o Sol estará próximo ao dossel do Altar ocupado pelo Venerável Mestre, mas não propriamente sobre o zênite[2] e sim levemente deslocado para sudeste, considerando-se o ponto de vista do hemisfério norte onde nasceu a Sublime Instituição e o Sul (Meio-dia), mais iluminado que o norte (ver plano do teto do Templo em anexo). Quanto a Lua, em quarto - crescente, estará na abóbada, sobre a mesa ocupada pelo Primeiro Vigilante no Ocidente (ver plano do teto do Templo).

Nota: Observe-se que é o Venerável que abre a Loja enquanto o Segundo Vigilante observa o Sol na sua passagem pelo meridiano e o informa que é Meio-Dia. O Primeiro Vigilante, que o ocaso do Sol - Meia-Noite - fecha a Loja, paga os Obreiros e os despede contentes e satisfeitos. Notar a marcha aparente do Sol e a sua representação simbólica.

ATENÇÃO - Não confundir com o Sol e a Lua do Retábulo do Oriente.[3]

II.2 - CONSTELAÇÕES

ORION - Localizada na porção mediana entre a estrela Aldebaran e o meridiano do Meio-Dia, do zênite para o quadrante Sul (ver plano do teto do Templo em anexo). Essa constelação composta por três estrelas alude, dentre outros, ao número correspondente ao Grau de Aprendiz.

HÍADAS - Localizada no quadrante Norte - Nordeste, próxima ao horizonte boreal[4] e da estrela Arcturus (ver plano do teto do Templo em anexo). Essa constelação composta por cinco estrelas alude, dentre outros, ao número correspondente ao Grau de Companheiro.

PLÊIADES - Localizadas no quadrante Norte, entre o zênite a linha do horizonte boreal, perpendicular à constelação de Orion e um pouco próxima à estrela Aldebaran (ver plano do teto do Templo em anexo). Essa constelação composta por sete estrelas que contornam uma central (sete ou mais) alude, dentre outros, ao número correspondente ao Grau de Mestre.

Nota:Três governam a Loja (Orion), cinco a compõem (Híadas) e sete ou mais a completam e a tornam perfeita (Plêiades).

URSA MAIOR - É a constelação visível apenas no hemisfério norte e exprime um sentido de orientação tal qual o Cruzeiro do Sul está para o hemisfério sul. Partindo-se da premissa de que nosso ponto de observação é o do hemisfério norte, obviamente a sua representação encontra-se presente. Composta por seis estrelas encontra-se localizada bem próxima à linha do horizonte boreal, no quadrante Norte - Noroeste da abóbada (ver plano do teto do Templo em anexo).

II.3 - PLANETAS

MERCÚRIO - Planeta que é representado por uma estrela que está localizada na abóbada na sua porção oriental, quadrante nordeste, próximo ao Sol (ver plano do teto do Templo em anexo). Por ser o planeta que mais rapidamente circula em torno do Sol, cujo nome corresponde a um deus mitológico veloz e astuto, representa o Mestre de Cerimônias, pois esse Oficial maçônico, sempre circulando pelo Templo, como elemento de ligação, imita o planeta.

JÚPITER - Planeta também representado por uma estrela que se encontra localizada na abóbada em sua porção oriental, quadrante sudeste, entre o Sol e a linha do horizonte austral[5], entretanto mais afastada da linha do horizonte oriental do que Mercúrio (ver plano do teto do Templo em anexo). Júpiter no panteão dos deuses babilônicos representava o régio senhor dos homens, associado à força, simboliza o Primeiro Vigilante.

VÊNUS - Representada por uma estrela, o planeta encontra-se situado no zênite da abóbada, na porção ocidental próximo a linha do horizonte (ver plano do teto do Templo em anexo). Vênus, feminilizado na mitologia babilônica e sendo a deusa mágica da fertilidade e do amor, simboliza a beleza, por conseguinte o Segundo Vigilante.

SATURNO - O planeta é representado com os seus anéis e circundado pelos nove satélites naturais (luas). Está situado na porção ocidental da abóbada, próximo ao Oriente entre o zênite e a linha do horizonte austral, próximo da estrela Spica, (ver plano do teto do Templo em anexo). Corresponde ao deus babilônico frio e cruel; com seus "anéis", simboliza a riqueza (metais), por conseguinte, por esse aspecto, simboliza o Tesoureiro.

Observação: A despeito de que a representação do planeta Saturno na abóbada demanda de uma arte mais apurada, o que muitas vezes se torna bastante dispendioso, é tolerada a sua representação através de uma estrela, obviamente que nesse caso, sem os anéis e as respectivas luas (satélites naturais).

II.4 - ESTRELAS

ARCTURUS - Situada o mais próximo possível da linha do horizonte boreal a Norte - Nordeste. É também conhecida como Estrela Polar (ver plano to teto do Templo em anexo).

SPICA - Situada no zênite da abóbada em sua porção inicial do Ocidente, o mais próximo possível de uma linha imaginária que se projeta da entrada do Oriente do Templo e perpendicular ao zênite (ver plano do teto do Templo em anexo).

ALDEBARAN - Essa estrela está situada no Ocidente e próxima à constelação de Órion, mais precisamente no eixo longitudinal da abóbada (zênite), mais próxima ao meridiano do Meio-Dia em sua porção anterior ao meridiano citado observado a marcha aparente do Sol (ver plano do teto do Templo em anexo).

RÉGULUS - Situada no quadrante noroeste da abóbada, próxima a Lua e quase sobre a mesa ocupada pelo Primeiro Vigilante (ver plano do teto do Templo em anexo).

FOMALHAUT - Situada próxima à linha do horizonte austral, mais precisamente a Sul - Sudoeste da abóbada, próximo ao meridiano do Meio-Dia, aproximadamente a retaguarda do Segundo Vigilante (ver plano do teto do Templo em anexo).

ANTARES - Situada no Ocidente entre o horizonte austral e a linha do zênite, sudoeste da abóbada, aproximadamente a esquerda do Segundo Vigilante (ver plano do teto do Templo em anexo).

Atenção - Não se deve confundir a estrela Fomalhaut com a Estrela Flamejante, pois entre ambas, o significado é bastante distinto, já que a primeira é realmente uma estrela descrita pela astronomia e se encontra visível no firmamento, enquanto que a segunda, apesar de possuir um elevado significado simbólico, principalmente para o Grau de Companheiro, não tem qualquer relação astronômica, devendo, portanto ser considerada como símbolo especulativo de origem pitagórica, embora para ela, exista um lugar definido na abóbada, como se verá mais adiante.

As primeiras cinco estrelas (Arcturus, Spica, Aldebaran, Régulus e Fomalhaut) representam as cinco Dignidades de uma Loja (Três Luzes - Venerável Mestre, Primeiro e Segundo Vigilante - Orador e Secretário), já que três governam, cinco a compõe e sete ou mais a completam. A sexta estrela (Antares) representa um dos Oficiais imprescindíveis na Loja - o Cobridor Interno, a despeito dos outros cargos não menos importantes e dentre os quais o Mestre de Cerimônias imperativo no Rito em questão para o funcionamento de uma Loja simbólica escocesa, que em hipótese alguma, poderia trabalhar sem a presença de pelo menos esses Oficiais. Daí uma das determinações de que uma Loja só pode ser aberta na presença de sete Mestres, observados o preenchimento dos respectivos cargos necessários para esse fim.

Nota Importante - O Grande Oriente do Brasil, por força de dispositivo constitucional e regimental, atualmente considera sete as Dignidades e não cinco como preceitua a Maçonaria tradicional. Levando em conta os cargos eletivos, considera-os todos como Dignidades de uma Loja. Entretanto, apesar de que o correto seriam cinco e não sete, enquanto persistir a errônea determinação, há que se obedecer às leis que emanam da Constituição.

II.5 - A ESTRELA FLAMEJANTE

Como anteriormente comentado, essa estrela não tem qualquer significado astronômico, entretanto, ela não deve ser posicionada a esmo na abóbada, já que, se não possui significado astronômico, ao contrário, ela possui um profundo conteúdo simbólico, principalmente para o Grau de Companheiro, a despeito de que a própria senha de reconhecimento do referido Grau é diretamente relacionada a ela. De origem pitagórica, também denominada como Estrela Hominal ou Pentalfa, ela possui a característica de conter em seu centro a letra "G" correspondente a inicial da palavra "GEOMETRIA" ou "QUINTA CIÊNCIA" e deve ser sempre posicionada com apenas um ápice para cima, o que lhe dá o sentido da "teurgia" como Obra da Luz. Por esses aspectos e além de muitos outros inerentes ao Segundo Grau Maçônico, a Estrela Flamejante assume uma postura de Luz Intermediária, portanto, deve ser posicionada entre a Luz Ativa (Sol - Sabedoria) e a Luz Passiva ou Reflexa (Lua - Efeitos). Dessa forma, a mesma deve se posicionar no meridiano do Meio-Dia, sobre a mesa ocupada pelo Segundo Vigilante, mas um pouco à frente deste e, se possível, deve ser iluminada por uma luz cálida, todavia suave (ver plano do teto do Templo em anexo).

Esses são os elementos decorativos da Abóbada Celeste que representa o firmamento nos Templos Maçônicos, observado o Rito praticado. Todavia, não existe a obrigatoriedade de que o Templo possua uma abóbada tradicional, principalmente se considerado o dispêndio financeiro para a sua execução. Se não for possível a sua construção, é perfeitamente admissível um teto plano, desde que o mesmo seja obrigatoriamente pintado na cor azul celeste e nele contenha pelo menos o Sol, a Lua e a Estrela Flamejante, se observado as suas posições de acordo com o que preceitua as nossas normas e tradições.

Quanto às nuvens, estas são perfeitamente dispensáveis, pois são meros elementos decorativos, portanto, desprovidos de qualquer significado simbólico.

II.6 - AS ESTRELAS QUANTO A SUA FORMA, COR E TAMANHO.

  • QUANTO A SUA FORMA - Obedecem ao padrão universal de representação (cinco pontas).
  • QUANTO A SUA COR - Para a Maçonaria, não existe qualquer padrão definido nem diversificado. Embora alguns ocultistas assim queiram determiná-las, correlacionando-as às suas interpretações, esse procedimento está em total desacordo e não encontra qualquer sustentação no basilar sentido racional da Sublime Instituição. Entretanto, o aconselhável, é que se determine uma cor mais próxima possível da realidade visível, o que nos leva a sugerir uma cor prateada que, além da sua discrição, obedece a um padrão estético de equilíbrio e bom gosto. Essa regra só não se aplica à Estrela Flamejante que, pela sua característica particular, deve diferenciar-se das demais. Embora a própria letra "G" já faça essa diferença, é interessante que a mesma possua uma cor diferenciada, pelo que sugerimos uma tonalidade de azul escuro, contrastando com o fundo azul celeste da abóbada, de modo que a letra "G" seja doirada.
  • QUANTO AO SEU TAMANHO - Aqui existem algumas regras a serem observadas: Determinar o seu tamanho seria impossível, pois esta deve obedecer a uma proporção à área da abóbada, entretanto essa área só pode ser obtida quando se sabem as dimensões do Templo. Como medida paliativa, deve-se observar a regra pela qual o aspecto decorativo não assuma uma forma carregada e nem tão pouco, em oposição, se perca pelo seu tamanho por demais reduzidos. Resumindo: o decorador deve usar o bom senso do equilíbrio. Agora, o que deve sim existir, é uma diferenciação no tamanho quanto a sua representação, ou seja: as seis estrelas denominadas Arcturus, Spica, Aldebaran, Régulus Antares e Fomalhaut e também aquelas que representam os planetas - Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno (se for o caso) - devem ser maiores na proporção de dois para um, do que àquelas que formam as constelações de Órion, Híadas, Plêiades (excetuando-se a estrela central dessa constelação) e Ursa Maior.

Deve existir também uma diferenciação entre as seis estrelas (Arcturus, Spica, Aldebaran, Régulus Antares e Fomalhaut) e àquelas que representam os planetas; não em tamanho, mas no seu conteúdo de preenchimento. Essa diferenciação é obtida da seguinte forma: as estrelas que representam os planetas devem ter o interior do pentágono inscrito - formado pelos vértices internos da estrela - "vazado", isto é, sem a cobertura da cor correspondente, aparecendo como fundo, o azul celeste da abóbada, fazendo com isso que essas estrelas tenham apenas as suas respectivas pontas cobertas pela cor que lhes é característica, aspecto esse que as diferenciará das demais, assumindo com isso, um caráter distinto quanto à finalidade da sua representação (ver a forma diferenciada no plano do teto do Templo em anexo).

Outra observação a ser feita, é quanto à estrela central da constelação Plêiades. Essa estrela deve ser um pouco maior do que as que a circundam, te tal forma, a diferenciá-la destas, todavia, deve-se tomar o cuidado de não torná-la demasiadamente grande, a ponto de ser comparada em tamanho com as estrelas isoladas (Arcturus, Aldebaran, Spica, etc.), bem como com as que representam os planetas.

Quanto a Estrela Flamejante e o seu tamanho, esta deve ser representada como a maior dentre todas as estrelas, de tal maneira à bem diferenciá-la de todas as outras, observado o cuidado de não se praticar o exagero.

O caráter proporcional deve ser também observado quanto às luminárias terrestres - o Sol e a Lua - principalmente relacionado-as ao tamanho da abóbada a ser decorada, aspecto esse que determinará em segunda instância a proporção no tamanho da estrela, se bem observada essa relação.

Nota ao Arquiteto ou Decorador - Para a execução do trabalho de decoração da abóbada, o mesmo deverá fazer uso do anexo incluso ao final dessa peça de arquitetura, devendo proceder da seguinte maneira: Em primeiro lugar deve-se observar que o respectivo desenho tem o seu ponto de vista de cima para baixo, portanto para a sua execução, este deve ser estendido no centro do Templo, sobre o eixo (equador), observando a sua correta orientação. Como segunda etapa, basta que o decorador faça a projeção mais aproximada possível e proporcional ao tamanho da abóbada, ou forro se for o caso, dos respectivos astros nele contidos. Qualquer dúvida, o zênite coincide com o equador do Templo em sua projeção vertical, além das próprias paredes, oriental, ocidental, norte e sul, também coincidirem com as respectivas linhas do horizonte, observado a característica dos limites de cada Templo no seu particular. Finalmente, alertamos que o referido desenho é apenas esquemático, portando não possui escala, pois sua finalidade tem apenas o caráter de orientação.

Apenas a título de sugestão, deve-se evitar a representação arcaica e medieval do Sol e da Lua assumindo feições humanas, estilizadas por expressões faciais compostas por olhos, nariz, boca, etc. Essa prática, além do mau gosto, acaba dando margem para que os especuladores e inventores de plantão acabem imaginando algum simbolismo nessas obscuras e fantasiosas representações.

III - CONCLUSÃO.

Finalizando, cabe observar a importância da exegese simbólica da Maçonaria e em particular ao Rito Escocês Antigo e Aceito, lembrando que a despeito das nossas tradições, usos e costumes, também é muito importante lembrar que a razão se sobrepõe as ilações fantásticas, na mesma proporção em que o Espírito se sobrepõe à matéria, levando o verdadeiro maçom à preferência pelo real ao aparente, quando a verdade e a ciência desmistificam a tradição inconcebível muitas vezes fundada nos velhos erros dos próprios sentidos humanos, perfectíveis, portanto, passíveis de erro.

Se a Abóbada Celeste conduz o Obreiro à enigmática observação do "Infinito" elevando o pensamento ao transcendental, é certo também que as noções de espaço, tempo, energia, matéria, dimensão e tantas outras, superaram as hipóteses do passado. Se na atualidade não se pode mais admitir a eternidade do Universo e o simples conceito do Infinito já não encontra guarita na ciência; quando a energia tende a esgotar-se e, com ela, o próprio ambiente que se nos apresenta, é incrível, mas verdadeira, a confirmação das velhas revelações iniciáticas estudadas pela tradição maçônica e expressadas pelas idéias que resultaram no conceito dual do Princípio e Fim, Alfa e Omega.

PEDRO JUK

EX-SECRETÁRIO GERAL P/REAA - GOB/PODER CENTRAL

SECRETÁRIO ESTADUAL DE ORIENTAÇÃO RITUALÍSTICA

GRANDE ORIENTE DO BRASIL - PARANÁ

MEMBRO CORRESPONDENTE DA QUATUOR CORONATI LODGE 2.076 - LONDRES

jukirm@hotmail.com - (0XX) 41 3415-1140

ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO

CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito. "A TROLHA", Londrina, 1.988.

____________. Dicionário Etimológico Maçônico. "A TROLHA", Londrina, 1995.

____________. Maçonaria e Astrologia. "Editora Landmark", São Paulo, 2.ª edição, 2002.

____________. Consultório Maçônico IX. "A Trolha", Londrina, 2004.

____________. Consultório Maçônico XI. "A Trolha", Londrina, 2011.

____________. Consultório Maçônico V. "A Trolha", Londrina, 1.997.

JUK, Pedro, Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom, Tomo I, "A TROLHA", Londrina, 2007.

VAROLI F.º, Theobaldo. Curso de Maçonaria Simbólica Tomo I. "GAZETA MAÇÔNICA", São Paulo.

ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maç\. "A TROLHA", Londrina, 1.996.

CARVALHO, Assis. Símbolos Maçônicos e Suas Origens. "A TROLHA", Londrina, 1.990.

MELLOR, Alec. Dic. da Franco-Maçonaria e dos Franco Maçons. "MARTINS FONTES", São Paulo, 1.989.

HORNE, Alex. O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. "PENSAMENTO", São Paulo, 1.991.

PERNAMBUCO, Grande Oriente de. Ritual de Aprendiz Maçom - R\E\A\A\. Recife, 1.994.

MICHAELIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo, 1998.

CARR, Harry, Freemasons at Work, Londres, 1979.

NESSAS OBRAS OBSERVAR AS RESPECTIVAS BIBLIOGRAFIAS CORRESPONDENTES.

NOTAS

[1] Quadrilongo (Adjetivo quadri + longo) - Que tem quatro lados, paralelos dois a dois, sendo dois dos paralelos mais longos que os outros dois.

[2] Zênite - O ponto em que a vertical de um lugar encontra a esfera celeste acima do horizonte. O ponto mais elevado da abóbada.

[3] Retábulo do Oriente - A parede localizada imediatamente atrás do altar que é ocupado pelo Venerável Mestre onde se encontram as luminárias terrestres e o Delta Radiante.

[4] Boreal - Do lado do norte; setentrional. Relativo ou pertencente às regiões limítrofes com a zona ártica.

[5] Austral - Do lado do sul, meridional. Relativo ou pertencente às regiões limítrofes com a zona antártica. 


CÂMARA DO MEIO

ENSAIO

CÂMARA DO MEIO

ENSAIO

I - INTRODUÇÃO.

Aproveitando a oportunidade pela qual tem se apresentado muitas súplicas a mim dirigidas por Respeitáveis Irmãos que buscam esclarecimento para as suas dúvidas, surgiu um tema relacionado à Loja de Mestre extraído de um pedido de opinião - a Câmara do Meio.

Embora se constitua em um título bastante corriqueiro no Terceiro Grau maçônico, ele é, entretanto, muito pouco racionalmente comentado, razão pela qual resolvi produzir esse modesto arrazoado na configuração de um ensaio que visa despertar uma preparação para instrução disciplinada, embora menos intensa que uma obra literária acabada.

II - DO TÍTULO.

Câmara do Meio é o título dado à Loja de Mestre na Moderna Maçonaria. Essa concepção começou a fazer parte do especulativo maçônico após o aparecimento do Terceiro Grau em 1.724 e sacramentado na segunda Constituição de Anderson em 1.738 relativa à Primeira Grande Loja (dos Modernos) em Londres.

Como uma Loja - exceto quando se relacionar ao título distintivo dado para uma corporação maçônica - só existe em trabalhos abertos, uma sessão maçônica aberta no Terceiro Grau adquire por extensão, o rótulo convencional de Câmara do Meio.

III - DO CONCEITO.

A alegoria da Câmara do Meio já está presente na Tábua de Delinear inglesa[1] (teísta) desde o Grau de Companheiro e se relaciona diretamente com o Livro das Sagradas Escrituras:

"A porta do lado do meio estava na parte direita da casa; e subiam por um caracol ao andar do meio e deste para o terceiro" (todos os grifos são meus) - Reis I, 6, 8.

Ainda em outra versão bíblica:

"A porta que levava à câmara do meio estava no lado sul da casa e por um caracol se subia ao segundo andar e deste para o terceiro" (os grifos são meus).

O lado direito da casa, sob o ponto de vista do Átrio, corresponde ao Sul, ou Meio-Dia, enquanto que em relação ao termo "caracol" inserido nos textos bíblicos, evidentemente se refere à Escada em Caracol, cujo emblema possui alto valor simbólico já que essa "escada" de acesso lateral para "câmara" representa a dificuldade e a sinuosidade que o Obreiro tem que passar para atingir a Câmara do Meio (aperfeiçoamento), que nesse caso sugere o Santo dos Santos do Templo de Jerusalém.

À bem da verdade a alegoria "escada-câmara" alude ao elo que existe entre o "meio-dia" (juventude) e o final da jornada à "meia-noite" (maturidade e morte - o Mestre que ingressa no Oriente).

É dessa a relação maçônica existente entre a lenda da construção do Templo de Jerusalém e a Loja, mais especificamente ao Oriente da Oficina, que se explica o porquê de só se permitir o ingresso no Oriente em Loja aberta àquele que já tenha atingido a plenitude no simbolismo universal maçônico - o Mestre.

Graças também a essa alegoria maçônica é que os Companheiros no Templo (Loja) ocupam sempre a Coluna do Sul, já que pelo texto bíblico que dá origem ao apólogo, a porta que leva à Câmara do Meio (Loja de Mestre) simbolicamente está situada no Sul[2].

Diga-se ainda de passagem que na alegoria do Templo o mesmo era um conjunto constituído por três partes - a primeira se denominava Ulam (átrio) onde se formava a assembleia; a segunda chamada Hikal onde os sacerdotes desempenhavam as suas funções e por fim a terceira, nomeada Debir (santuário) onde era depositada a Arca de Aliança.

Com o advento da criação do grau de Mestre e por extensão da Lenda do Terceiro Grau cujo anfiteatro se dá no lendário Templo de Jerusalém é que se desenvolveria o arcabouço doutrinário e filosófico do simbolismo da Moderna Maçonaria que passaria definitivamente a associar especulativamente o aprimoramento do Homem com a construção do Templo interior - a Obra perfeita dedicada a "Deus". Daí a relação metafísica incondicional e sucessiva entre os três Graus cuja jornada parte do Ocidente em direção à Luz do Oriente - Intuição, Análise e Síntese.

Nesse sentido não se poderia mencionar a Câmara do Meio sem considerar, sob o ponto de vista histórico e iniciático, a sua relação com o grau de Companheiro como penúltimo estágio do aprimoramento - Do pórtico ao Sul em direção à Câmara do Meio onde se situa a Árvore da Vida, local onde o Mestre pode então inquestionavelmente assim afirmar: "A A\M\É C\".

Vale a pena ainda mencionar que essa alegoria constituída pela tríade Escada em Caracol, Templo de Jerusalém e Câmara do Meio é valida apenas para o simbolismo da Moderna Maçonaria, já que esse conjunto emblemático, bem como a Lenda de Hiran, não corresponde ipsis litteris à completa realidade descrita no texto bíblico.

IV - DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS.

O termo "Câmara do Meio" é em Maçonaria uma espécie de Nec Plus Ultra, cuja característica filosófica envolveu conhecimentos racionais que determinaram regras e fundamentos do pensamento enquanto era urdido o método e a chave destinada para se reencontrar a Palavra Perdida (o conhecimento real, nunca o aparente).

Essa é a razão que pode, na ordem natural dos fatos, explicar o termo "Câmara do Meio" em Maçonaria. Daí pela "ordem natural" que envolve a construção do Templo e a Lenda do Terceiro Grau, os Aprendizes ocupam o Norte, Companheiros o Sul e os Mestres o Oriente donde dali simbolicamente ele (o Mestre) parte para qualquer das latitudes e longitudes terrenas (o Ocidente da Loja entre o Esquadro e o Compasso).

Assim, em se bem compreendendo a Arte, a Câmara do Meio traz a baila e desfaz todas as ilações temerárias produzidas por aqueles que de quando em quando lançam irresponsavelmente sementes ao vento tentando, por exemplo, inverter a circulação e a localização dos Aprendizes e Companheiros na Loja. Para esses incautos poder-se-ia então perguntar: e o pórtico da Câmara do Meio? Invertendo os escritos bíblicos, ele passaria do Sul para o Norte? Como então ficaria a referência feita à construção do Templo mencionada nas Escrituras? Essa menção seria subvertida? Biblicamente o Meio-Dia passaria para o Norte? Contar-se-ia então uma nova Lenda com Hiran tentando fugir do primeiro algoz pelo Norte?

Afinal, se os fatos têm a sua razão de ser, é porque certamente nada foI arquitetado casualmente.

PEDRO JUK

Setembro de 2.014 - Equinócio de outono no hemisfério Norte

NOTAS

[1] Tábua de Delinear é o Painel da vertente inglesa de Maçonaria que não raras vezes muitos rituais que envolvem ritos de origem francesa acabam por misturá-los, quando não, até mesmo substituí-los, ou mesmo inserir os dois painéis justificando a presença dupla com a invenção do título de "Painel Alegórico". Cada uma das duas principais vertentes maçônicas (inglesa e francesa) possui nos três graus universais características alegóricas e simbólicas próprias. O painel a que se refere o texto é a Tábua de Delinear inglesa (Tracing Board) do Segundo Grau - aquele que mostra uma escada lateral em curva (caracol) que dá acesso no seu topo à Câmara do Meio.

Atenção: independente da vertente maçônica e as suas particularidades próprias, o título de Câmara do Meio é genérico para todo o Terceiro Grau maçônico, seja ele de qual Rito ou Trabalho venha a pertencer. Assim também é a sua relação alegórica com o título que também será sempre aquele baseado na tradição da Tábua de Delinear do Segundo Grau (inglesa).

[2] Lado Sul. Para que não pairem dúvidas em relação ao ponto de vista "direita-sul" do Ocidente para o Oriente, o observador da gravura deve levar em conta que a Tábua de Delinear mencionada representa um compartimento à direita adjacente ao Templo. Obviamente que apesar da perspectiva sofrível da gravura, o importante é a mensagem simbólica contida no quadro. Note na base da escada o Segundo Vigilante pronto para obstar a passagem daquele que porventura não saiba ainda pronunciar a Palavra de Passe (aperfeiçoamento incompleto) - ao fundo a espiga de trigo junto a uma queda d'água sugere a senha inerente a essa Palavra.


ERA VULGAR E VERDADEIRA LUZ.

Era - do latim aera, substantivo feminino, designa, dentre outros, o ponto determinado no tempo, que se toma por base ou referência para a contagem dos anos. Exemplo: a Era Cristã.

Sob esse aspecto o termo também representa o número de anos provindos a partir de algum acontecimento notável, cuja expressão época sugere o momento primordial desse episódio. É o caso bastante apropriado, por exemplo, no que se refere ao próprio começo dos tempos, ou o princípio do mundo.

Embora essa concepção seja ainda hoje especulativa, é graças a ela que muitas civilizações e religiões adotaram a sua própria "Era" relacionada à criação do mundo. Dentre outros, os Judeus, por exemplo, concebem-na a partir do Pentateuco no primeiro livro de Gênesis, enquanto que os Cristãos idealizam-na a partir do nascimento de "Jesus Cristo".

Vulgar - do adjetivo latino vulgare, menciona dente outros o que é relativo ou pertencente ao vulgo; comum, trivial, usual.

O termo "vulgar" relacionado à "era" (tempo) está presente, segundo alguns autores, embora ainda discutível, desde que os judeus estabeleceram o título "Era Vulgar" em substituição ao "antes e depois de Cristo", fato que viria servir de parâmetro para designar o mundialmente conhecido Calendário Gregoriano [1], já que a Era Cristã e a Era Vulgar por força das circunstâncias se tornariam análogas.

Em se tratando de Maçonaria e o seu particular calendário, neste, o primeiro ano rotulado que aparece em antigos documentos do século XVIII é o Ano da Verdadeira Luz, em latim Anno Lucis, tido como a "idade dos cortadores de pedra" (Age of Stonecutters).

Buscando dar uma classificação independente de religião, bem como também dar um caráter de universalidade à Ordem, James Anderson, autor da Constituição de 1.723, baseado nos cálculos do bispo irlandês anglicano James Usher que houvera desenvolvido um estudo relativo à criação do mundo conforme o Livro de Gênesis e nos comentários críticos da massorat [2], segundo os quais a criação do mundo teria ocorrido em 4.004 antes de Cristo, Anderson então cogitou no texto constitucional que o início da Era Maçônica havia se dado 4.000 anos antes da Era Vulgar ou Era Comum (antes de Cristo).

Embora se perceba um pequeno arredondamento de quatro anos entre o resultado proposto por Usher e o adotado por Anderson prevaleceria maçônicamente o acréscimo da constante de 4.000 anos somada à Era Vulgar [3], cujo ano teria a mesma duração do Gregoriano, com a diferença de que o ano maçônico começaria no dia 1º de março, tendo os títulos dos meses designados conforme o seu número ordinal correspondente. Exemplos: segundo Anderson, o dia 1.º de março de 2.014 da Era Vulgar (E.'.V.'.) corresponde ao dia 01 do mês 01 do ano de 6.014 da V.'.L.'.; dia 10 de junho de 2.014 da E.'.V.'. corresponde ao dia 10 do mês 04 do ano de 6.014 da V.'.L.'..

À bem da verdade essa inserção de Anderson não pode ser considerada como uma regra geral e única adotada pela Moderna Maçonaria (a partir de 1.717), até porque com a evolução e a proliferação de ritos e sistemas maçônicos, particularidades nesse sentido devem ser criteriosamente observadas, sobretudo sobre o ponto de vista cultural e até mesmo religioso que possa envolver o costume.

Assim é o caso, por exemplo, de uma grande parcela dos trabalhos inerentes ao franco-maçônico básico da Maçonaria anglo-saxônica, bem como o Rito Moderno, ou Francês que adotam o calendário da Verdadeira Luz conforme o anteriormente mencionado, enquanto que o Rito Adonhiramita (origem francesa) adota um calendário equinocial que, embora também mantenha a mesma constante de 4.000 acrescida à Era Vulgar, tem o ano maçônico iniciado - ao invés do dia 1º - em 21 (vinte e um) de março que corresponde ao primeiro dia do primeiro mês.

Já no caso do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito (também filho espiritual da França), provavelmente pela forte influência hebraica exercida sobre ele, adota para a Verdadeira Luz a constante de 3.760 [4] somada à Era Vulgar (gregoriana) entre os dias 1º de janeiro até 20 de setembro e 3.761 entre 21 de setembro e 31 de dezembro. Nesse caso o ano maçônico tem início em 21 de março no equinócio de primavera no hemisfério Norte o que por certo aspecto até se confunde com o calendário religioso hebraico (judaico) que é lunar e geralmente começa também no ponto vernal que ocorre na meia-esfera boreal do Planeta, cujo primeiro mês tem o nome de Nissan. Assim no simbolismo do Rito Escocês o dia 21 de março de 2.014, por exemplo, corresponde ao 1º dia do 1º mês Nissan do ano de 5.774 da Verdadeira Luz (2.014 + 3.760 = 5.774), enquanto que o dia 21 de setembro de 2.014 corresponde ao 1º dia do 7º mês Tishrei ou Tishri do ano de 5.775 da V.'.L.'. (2.014 + 3.761 = 5.775).

A explicação para a diferença de constantes (3.760 ou 3.761) é porque o ano civil hebraico (judaico) geralmente quase coincide no seu princípio com o início da estação do outono no hemisfério Norte (21 de setembro). Assim o calendário hebraico (judaico) se constitui pelo ano religioso e pelo ano civil, cujos respectivos inícios se dão muito próximos aos equinócios de primavera e outono no Norte. O religioso no mês Nissan próximo a 21 de março e o civil no mês Tishrei ou Tishri conexo a 21 de setembro.

Vale a pena mencionar que é no sétimo mês (Tishrei) que ocorre o Rosh Hashaná [5], o Yon Kippur [6] e o Sucot [7].

A título de ilustração, em se tratando de Rito Escocês Antigo e Aceito e citando como exemplo os seus Supremos Conselhos norte-americanos, em linhas gerais eles adotam o termo Ano do Mundo (Anno Mundi) em lugar do título Verdadeira Luz e usam também a constante de 3.760 somada à Era Vulgar, porém a partir de 1º de janeiro até 31 de agosto e 3.761 a partir de 1º de setembro até 31 de dezembro. Nesse particular o ano se inicia em primeiro de setembro do ano em curso e se encerra em trinta e um de agosto do ano seguinte. Os meses são designados por numeração ordinal, assim setembro é o primeiro mês, enquanto que agosto, por exemplo, é o décimo segundo e último mês.

Também na Maçonaria e conforme os costumes e práticas ainda pede-se encontrar outros cálculos inerentes ao calendário, todavia os até aqui mencionados são os principais e os que mais aparecem dentro do franco-maçônico básico.

Em resumo a Era da Verdadeira Luz pode ser encontrada nos conceitos maçônicos adicionando-se as constantes de 4.000, 3.760 ou 3.761, conforme o caso, ao ano da Era Vulgar (calendário Gregoriano).

Antes de dar por concluídas as considerações, vale a pena aqui mencionar que o ideário relacionado aos calendários maçônicos e a sua afinidade com fatos históricos e lendas religiosas do passado é apenas e tão somente simbólica, não incentivando ninguém a imaginar a existência da Maçonaria junto ao princípio do mundo. O conceito provavelmente foi idealizado no intuito de simbolizar uma antiguidade para pragmática maçônica, e não a idade da Sublime Instituição que verdadeiramente possui aproximados oitocentos anos de história.

Graças ao ufanismo de alguns somados às falsas interpretações do calendário por outros é que no Brasil arrumaram uma data equivocada para a independência do Brasil dentro da Loja Comércio e Artes como sendo no dia 20 de agosto e ainda por cima sacramentaram mais tarde o erro histórico constituindo para falsa data o Dia do Maçom. Pelo calendário equinocial usado pela Maçonaria na época da Independência, 20º dia do 6º mês (início do sexto mês em 21 de agosto) correspondia no calendário gregoriano dia 09 de setembro da E.'.V.'. (Boletim do GOB datado no ano 1.874 da E.'.V.'.). No dia 20 de agosto da E.'.V.'. nem mesmo houve sessão no GOB, fato que pode ser verificado nas suas próprias atas de ouro concernentes à época.

Alguns elementos auxiliares para pesquisa e consulta bibliográfica:

Calendários Maçônicos e Suas Corretas Aplicações - Kennyo Ismail - www.noesquadro.com.br

Do Pó dos Arquivos - José Castellani - www.atrolha.com.br

Peça de Arquitetura Antonio C. Rios - Academia Maçônica de Letras do MS - COMAB.

História do Grande Oriente do Brasil - José Castellani - GOB.

Wikipédia - calendários judaicos.


PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

OUT/2014.


[1] O Calendário Gregoriano é um calendário de origem europeia, utilizado oficialmente pela maioria dos países. Foi promulgado pelo Papa Gregório XIII (1.502-1.585) em 24 de fevereiro do ano 1.582 pela bula "Inter gravissimas" em substituição do calendário Juliano implantado pelo líder romano Júlio César (100 - 44 a.C.) em 46 a.C.

Como convenção e por praticidade o Calendário Gregoriano é adotado para demarcar o ano civil no mundo inteiro, facilitando o relacionamento entre as nações. Essa unificação decorre do fato de a Europa ter, historicamente, exportado seus padrões para o resto do globo.

[2] Massorat - conjunto dos comentários críticos e gramaticais acerca da Bíblia - sobretudo o Velho Testamento - feitos por doutores judeus - os massoretas.

[3] Era Vulgar, Era Comum ou Era Cristã correspondem ao ano pertinente no calendário gregoriano.

[4] 3.760 - De acordo com a tradição judaica, a contagem é feita a partir da criação de Adão o primeiro homem (a Torá hebraica - primeiro livro de Gênesis). Para o cálculo do ano judaico, basta acrescentar 3760 ao ano do calendário gregoriano (levando em consideração que nos meses de setembro/outubro, começo do ano civil judaico, se acrescenta um a mais ao ano corrente).

[5] Rosh Hashaná - é o nome dado ao ano-novo judaico e significa literalmente "cabeça do ano". Rosh Hashaná ocorre no primeiro dia do mês de Tishrei, primeiro mês do ano no calendário judaico rabínico, sétimo mês no calendário religioso e nono mês no calendário gregoriano.

[6] Yon Kippur ou Ioum Quipúr é o Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do Judaísmo. No calendário judaico começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei (que geralmente coincide com setembro/outubro), continuando até ao seguinte pôr do sol. Os judeus tradicionalmente observam esse feriado com um período de jejum de 25 horas e oração intensa.

[7] Sucot (do hebraico sukkot, cabanas) é um festival judaico que se inicia no dia 15 de Tishrei de acordo com o calendário judaico. Também conhecida como Festa dos Tabernáculos ou Festa das Cabanas ou, ainda, festa das colheitas visto que coincide com a estação das colheitas em Israel, no começo do outono. É uma das três maiores festas, conhecidas como Shalosh Regalim, onde o povo de Israel peregrinava para o Templo de Jerusalém. Nos dias de hoje multidões se reúnem na oportunidade aos pés do Muro das Lamentações.


OS ANTIGOS E OS MODERNOS

Pedro Juk

jukirm@hotmail.com

Já nos primeiros anos do nascimento da Primeira Grande Loja viriam aparecer os primeiros problemas de gestão e desenvolvimento, próprios dos novos conceitos oriundos das novidades e que normalmente nem sempre são vistos com bons olhos.

Tomando-se em conta o particular modelo tradicionalista dos Maçons ingleses, onde o novo método obediencial não obtinha consonância, era até natural o aparecimento de uma contenda entre os inovadores e os tradicionalistas.

De 1720 a 1721, durante o segundo mandato que teve como Grão-Mestre o Irmão George Payne, foram elaborados os Regulamentos Gerais da Grande Loja, cujo conteúdo deles mais tarde faria parte do Livro das Constituições. Coube então ao Duque de Montague, empossado em 1721, permanecendo no cargo até 1723, suceder a Payne. Montague, primeiro membro da nobreza inglesa a ingressar na Primeira Grande Loja e presidi-la, foi sob a sua presidência que teve início a compilação das "Old Charges" (Antigas Obrigações) que resultaria no Livro publicado em 1.723, conhecido atualmente com o título de "As Constituições de Anderson".

Com conteúdo expresso pelos antigos preceitos, costumes e regulamentos gerais da Franco-Maçonaria, sua compilação obteve também a importante participação de dois ex-Grão-Mestres e fundadores da primeira Grande Loja - George Payne e Jean Théophile Désaguliers. Assim, Payne organizou os textos mais importantes das antigas constituições e os entregou ao Reverendo James Anderson, enquanto que Désaguliers, principalmente pela sua grande capacidade intelectual, seria o mentor do Livro das Constituições que é considerado como um dos instrumentos jurídico básico do direito maçônico, a despeito das revisões e alterações pela qual passaria até o ano de 1.7381 - As Constituições de Anderson2.

Dentre outras tantas dificuldades enfrentadas pela Primeira Grande Loja em seus primeiros anos de existência, também estaria a da sua autodenominação como "Grande Loja Mãe" que é até hoje por muitos questionados a despeito de não ter havido consenso de toda a Maçonaria da época na aceitação do então novo sistema obediencial.

As Constituições em 1.723 acabariam por consolidar o novo sistema organizacional, todavia longe de um consenso, levaria aos Maçons presos às antigas tradições a denominá-lo pejorativamente de "Os Modernos". Essa posição estava amparada no choque ocasionado pelas drásticas inovações impostas pelo novo sistema (moderno), principalmente no tocante à religiosidade haurida das raízes monásticas do passado. Sob essa óptica a Maçonaria dita tradicional relegava os conceitos modernos que omitiam as orações, as preleções e os sermões; omitiam as comemorações dos Dias Santos, além da descristianização dos rituais e a ausência de Diáconos como oficiais em suas Lojas - a origem do título de Diácono está na Igreja e de modo operacional na Maçonaria Operativa com os antigos oficiais de chão.

Ainda outros motivos alegados pelos "tradicionalistas" eram a preparação incorreta de candidatos, a abreviação das Cerimônias Maçônicas, a transposição dos meios de reconhecimento, a omissão da leitura das "Antigas Obrigações" aos

Iniciados, o abandono da Cerimônia de Instalação do Mestre da Loja, dentre outros3.

Muito embora a insegurança administrativa e as dificuldades enfrentadas pela Primeira Grande Loja, a mesma aportava no ano de 1.730 com uma constelação de aproximadamente cem Lojas, cujo suporte administrativo, ligado à nobreza a partir de 1.723, equilibrava a situação como uma espécie de sobrevivência em seu favor. Entretanto, em sua oposição, ainda se apresentava um crescente descontentamento que levaria muitas Lojas a suspenderem as suas reuniões. Inclusive muitas delas, descontentes com o sistema obediencial dito Moderno, continuavam suas atividades, todavia na forma tradicional, ignorando por completo todas as mudanças estabelecidas pela Primeira Grande Loja. Essa condição faria então que se solidificasse um movimento de oposição que contestava a autoridade daquela que também se autodenominava de "Grande Loja Mãe".

Nesse cenário estratificado não tardaria a aparecer outra Grande Loja rival que ressalvava para si a sustentação dos antigos princípios, usos e costumes do Ofício. Desse modo, em 17 de julho de 1.751 na Turk's Head, Greek Street, no Soho, uma assembleia de Maçons realizada por cinco Lojas4 dava por declarada as suas convicções pertinentes à preservação dos antigos costumes.

Essa outra Grande Loja então se autodenominaria a "Grande Loja dos Antigos" em contraposição a Primeira Grande Loja de 1.717 qualificada pelos tradicionalistas como "Moderna".

ANOTAÇÃO 1 - No século XVIII concomitante ao aparecimento da Moderna Maçonaria (primeiro sistema obediencial), acentuava-se também o aspecto difamatório contra a Maçonaria. As novas formas de admissão eram severamente censuradas e questionadas pelos Maçons tradicionais em detrimento aos fatos que resultariam nas famosas revelações ("exposures") a exemplo de Samuel Prichard e a sua "Masonry Dissected" (Maçonaria Dissecada) que acabou por obter três edições em um só mês - outubro de 1730. Posteriormente ainda apareceriam "Jachim and Boaz" como revelação direcionada aos Modernos e "The Three Distínct Knocks" (Três Pancadas Distintas) relacionada aos Antigos. Não menos importante ainda, há que se referirem os fatos inerentes à bula contra os Maçons assinada pelo Papa Clemente XIII publicada em 1738.

Na verdade, a Grande Loja dos Antigos era composta em quase toda a sua totalidade por Maçons irlandeses residentes em Londres e arrabaldes que eram contrários às novas regras inseridas pela Primeira Grande Loja, preferindo estes a trabalhar segundo o ditame tradicional da época - o direito de formar Lojas "livres".

Naquela oportunidade a Primeira Grande Loja já se encontrava composta, em sua quase totalidade, pela aristocracia inglesa, fator esse que a diferenciava dos Maçons irlandeses, preponderantemente estabelecidos dentro dos tradicionais princípios e costumes da Franco-Maçonaria herdados da sua terra natal - exasperava-se o antigo sentimento de irritação entre irlandeses e ingleses, fato que de modo geral, embora atualmente menos incisivo, perdura até os dias de hoje (altercações entre católicos e protestantes).

Da mesma forma, também não escaparia a Grande Loja dos Antigos a enfrentar as dificuldades inerentes aos primeiros tempos de oposição a Primeira Grande Loja (dos Modernos). Com um número inexpressivo de Obreiros em

relação à Loja rival, que apesar do desagrado já contava com um grande número de Lojas - cerca de 80 espalhadas pela Inglaterra, passaria a sofrer uma legítima transformação a partir de 1.752 com Laurence Dermott5, cujo nome viria ser o verdadeiro sustentáculo e norteador da história dos "Antigos".

Dermott, rígido disciplinador e observador dos princípios e costumes da antiga Francomaçonaria, conseguiu persuadir uma grande parte de Maçons desiludidos com as mudanças produzidas pelos "Modernos" a se unirem aos autodenominados "Antigos", conseguindo, já ao final de 1.755, a adesão de aproximadamente 46 Lojas, reforçando assim a oposição às inovações apregoadas pelos Modernos.

Em 1.756 era então publicado um livro intitulado "Ahiman Rezon6", de autoria de Dermott, que seria uma espécie de Constituição regente da Grande Loja dos Antigos, cuja propaganda denunciava a depravação dos costumes da pura Maçonaria produzida pela Primeira Grande Loja (Modernos). O livro também trazia um conjunto de "Antigas Obrigações" embasadas em grande parte nas Constituições Irlandesas de 1.751, ressaltando uma extrema alma teísta contrariando o feitio, embora também teísta, todavia mais liberal, daquele que era apregoado pelos "Modernos" de 1.717.

Esse fato acabaria por orientar ainda mais as incriminações e críticas dos "Antigos" contra a forma descristianizada dos rituais, bem como a supressão das preces e celebrações dos dias santificados - práticas corriqueiras na Primeira Grande Loja.

Com perspicácia Dermott apregoava o elo entre os "Antigos" da Grande Loja e a lendária Constituição do príncipe anglo-saxão Edwin, filho do Rei Athelstan, que teria convocado a Convenção de York realizada em 926 para aprovar uma constituição que seria a lei norteadora (segundo ele) dos Francos-Maçons, comumente conhecida como a "Carta de York" - na verdade essa reunião se propunha mesmo a avaliar os prejuízos auferidos pelas invasões dos povos bárbaros.

Com esse estratagema, os "Antigos" se autodenominavam como "Maçons de York", já que a velha cidade de York na Inglaterra é tomada como o mais antigo centro operativo organizado o que lhe caberia o título de "Meca da Maçonaria".

Cita o Irmão José Castellani: "Era sem dúvida um expediente psicológico, desde que muitas vezes antiguidade é - inclusive até hoje - confundida por alguns com autoridade entre os Maçons, e a frase desde os tempos imemoriais, casava perfeitamente com a intenção de respeito pela decantada antiguidade, levando os Antigos a ridicularizar os Modernos como um ninho de inovadores e inventores maçônicos".

Mais um grande impulso para essa consolidação ocorreria através da participação da nobreza a partir de 1.771, com o acesso ao Grão-Mestrado dos terceiro e quarto Duques Atholl, os quais dirigiriam a Grande Loja dos Antigos por um período de 31 anos, o que fez com que a Grande Loja ficasse também conhecida como "The Atholl Grand Lodge".

ANOTAÇÃO 2 - Essa tradição atribuída por Dermott era mesmo apenas um artifício por ele usado no sentido de afirmar o caráter de antiguidade e autenticidade da sua Grande Loja, portanto, não deve ser tomada ao pé da letra como uma realidade histórica. Para uma melhor apreciação sobre o tema, consultar dentre outros, "The Builders - A Story and Study of Freemasonry", Newton, J. F, McCoy; "Análise das Constituições de Anderson" Castellani, José, Editora "A TROLHA"; "Masonry: Pure & Applied" Morgan, Michael, Collected Prestonian Lectures; "English Freemasonry in Europe 1.717 - 1.919", Brodsky, M. L. Collected Prestonian Lectures; ''Understanding The Royal Arch", Sandbach, Richard, Q.C.C.C. Limited, London.

Nesse panorama construído desde 1.717 com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres e de 1.751 com a fundação da Grande Loja dos Antigos, é que a Moderna Maçonaria viria sofrer uma paulatina, mas radical transformação, tanto no sentido da tradição, dos usos e dos costumes, bem como no campo da organização e da construção social.

Os embates produzidos entre os "Modernos" e os "Antigos" viriam ao longo dos anos desaparecerem dando lugar à Loja de Reconciliação, consolidando-se - sobretudo à maneira inglesa - numa organização cautelosa, porém perene com a participação da Real Coroa.

Com dois irmãos de sangue da realeza inglesa no comando das duas Grandes Lojas rivais, Duque de Sussex e Duque de Kent, em 1.813 um extenso documento delineava as condições de união para o governo de uma nova Corporação. Em 25 de novembro de 1813, em assembleia das duas Grandes Lojas era declarada, através do artigo VI, que a Grande Loja Incorporada deveria ser aberta sob o título de "United Grand Lodge of Ancient Masons of England".

Assim em 27 de dezembro de 1813, em uma grande assembleia de Maçons, era então assinado o "Act of Union", sendo a nova entidade proclamada como a "Grande Loja Unida da Inglaterra".

Evidentemente ambas as partes cederam em alguns pontos para que se chegasse a um denominador comum num conceito de trabalho que abordava certa modernidade, todavia respeitando as tradições, usos e costumes impostos, sobretudo pela linha dos autodenominados Antigos, o que viria se constituir na espinha dorsal da administração de um Poder Central e da forma prática dos trabalhos expressos pelas Lojas Inglesas.

Por esses aspectos a Moderna Maçonaria assumiria uma consolidação especulativa tomada pelas transformações sociais, tal como a Reforma religiosa, os Livres-Pensadores, o Iluminismo e o Século das Luzes, a Revolução Francesa e as ideias libertárias, entre outros. Nesse sentido, a aristocratização da Maçonaria e um novo conceito filosófico na ideia da transformação do Homem trouxeram, principalmente no século XVIII, novas linhas de pensamento absorvidas pela cultura humana para o seio das Lojas, enriquecendo principalmente o aparecimento de formas doutrinárias específicas ditadas por normas privativas de trabalho maçônico, mais comumente conhecido come Ritos. Os Ritos, ou na Maçonaria inglesa os Trabalhos (working, craft), assumiriam uma forma rica e peculiar na formação de um ideário maçônico velado por símbolos e alegorias. Esse sistema, não obstante muitas vezes característico de uma forma particular e cultural de trabalho, a sua sustentação doutrinária mantém para toda a Maçonaria Simbólica Universal, independente da conjuntura dos Ritos e Trabalhos, o seu objetivo principal que é "o aperfeiçoamento humano".

NOTAS.

1. Em nome da segurança de informações sobre a Maçonaria, George Payne, após a compilação por Anderson de aproximadamente oitenta textos das "Old Charges", literalmente as incinerou. Embora essa preocupação na época até pudesse ser considerada adequada, para a historiografia foi um prejuízo sem precedentes.

2. Constituição de Anderson - A época fora publicada sobre o faustoso título; "As Constituições dos Franco-Maçons, contendo a História, Obrigações, Regulamentos, etc., da Muito Antiga. Correta e Venerável Fraternidade, para Uso das Lojas".

3. Essas modificações refletiam um novo pensamento esclarecido que já se fazia presente prenunciando mudanças sociais e políticas advindas das luzes do esclarecimento (Iluminismo) que se espalhava pela Europa por parte de idealistas, pensadores e filósofos franceses contrários ao obscurantismo ainda latente da Idade Média. Na Inglaterra a reforma religiosa era fato consolidado pelo Anglicanismo, embora de origem Católica.

4. Cinco Lojas - Mantinham nomes de tavernas e cervejarias: "The Turk's Head" (Cabeça de Peru), em Greek Street, Soho; "The Criplle" (O Coxo), em Little Britsin; "The Cantion" (O Canhão), em Water Lane, Fleet Street; "The Plaister" Arms'' (Braços de Gesso), em Grays ln Lane; "The Globe'' (O Globo), em Bridges Street, Covent Garden - in McLeod, Wallace in The Collected Prestonian Lectures", Londres, 1.975 - 1.987, p. 130.

5. Laurence Dermott - Irlandês, pintor e decorador de edifícios, nascido em Dublin no ano de 1.720. Maçom, Iniciado em 1.740 com 20 anos de idade, sendo instalado como Mestre da Loja nº 26 em Dublin no ano de 1.746.

6. Ahiman Rezon - Do hebraico: ahim = irmãos; manah = escolher e ratzon = lei. A frase significa "Conselho dado a um Irmão" (Castellani, José e Rodrigues, Raimundo in Análise, da Constituição de Anderson, p. 35, A TROLHA, 1.995).

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

Atualizado em setembro de 2015.



CONTINUAM AS CARCAÇAS DO DINOSSAURO

ECOS DO PASSADO

Tenho observado que vez por outra aparecem certos escritos que sugerem mudanças e desqualificação do pensamento doutrinário do belíssimo Rito Escocês Antigo e Aceito como se já não bastassem os enxertos que o assolam, sobretudo na Maçonaria brasileira, transformando-o às vezes em uma "colcha de retalhos".

O que me refiro é que além de todas essas pedras de tropeço que têm sido criteriosamente e exaustivamente extirpadas uma a uma de modo acadêmico pela escola autêntica (pelo menos em alguns rituais), infelizmente ainda aparecem incitações e sugestões que além de nada somar para a investigação ainda incitam o crédito em certos restos putrefatos que de há muito tempo já foram sepultados.

Vivemos atualmente mais um período equinocial, cujo ápice ocorreu em 21 de março próximo passado, o que indica o início da estação da primavera no hemisfério Norte da Terra e do outono no hemisfério Sul. Para a Maçonaria e muito em particular ao Rito Escocês Antigo e Aceito esses períodos que marcam os ciclos naturais são bases elementares da estrutura doutrinária do Rito, cuja associação simbólica de comparação determina a alegoria do aperfeiçoamento do Homem (matéria prima especulativa) comparando-o com as etapas da Natureza, ou o ato de morrer (inverno) para o de renascer (primavera).

Além da doutrina ética e moral do lapidar que é o objetivo sintético na Maçonaria Especulativa, os ritos e trabalhos por sua vez exercem na Maçonaria uma espécie de grade curricular que orientam esse "aperfeiçoamento" e para tal, constituem as suas particularidades escolares. Assim, se tomarmos como exemplo o Rito Escocês Antigo e Aceito no seu simbolismo criado em 1.804 (primeiro ritual simbólico) e aperfeiçoado durante o Século XVIII nos moldes do pensamento humano oriundo da França, nos deparamos com uma série de características particulares da sua formalidade ritualística o que lhe desenvolve um padrão sui generis no simbolismo.

Toda essa estrutura tem como cenário visual e palpável o ambiente da Loja e a sua decoração imaginada e preparada para adequar a doutrina do Rito ao resultado final do aperfeiçoamento adquirido no trajeto da senda iniciática do simbolismo.

Nessa abstração maçônica o Homem (perfectível) como integrante da Natureza protagoniza a regra natural imutável do nascimento, da infância, da juventude e da maturidade - primavera, verão, outono e inverno. Nesse ambiente está a razão da decoração e alegorias na liturgia do escocesismo simbólico onde destacamos as Colunas Zodiacais, as Colunas Solsticiais (B e J) como marco de passagem dos trópicos de Câncer ao Norte Capricórnio ao Sul, o Topo das Colunas do Norte e do Sul, a decoração da Abóbada Celeste e as datas solsticiais e equinociais.

Todo esse corolário alegórico destaca-se na Loja como o elemento de estrutura simbólica e por consequência geográfica de nascimento nas latitudes terrenas que se refere ao hemisfério Norte do Planeta. Como dito, esse é um elemento "simbólico" para a comparação e não um elemento astronômico de uma academia universitária. É nesse particular que os ritos maçônicos criados no HEMISFÉRIO NORTE seguem a sua senda iniciática a partir da Coluna do Norte - Aprendizes no Norte, Companheiros no Sul e os Mestres no Oriente e espalhados por toda a face da Terra

Cabe então aqui um alerta: a Sala da Loja, ou Templo Maçônico é um canteiro simbólico de obras haurido dos costumes medievais operativos e, conforme a doutrina do Rito associa-se muitas vezes o seu exclusivo simbolismo doutrinário. No caso do Rito Escocês a Loja simbólica representa um segmento do Globo terrestre situado sobre o Equador orientado do Ocidente (Oeste) em direção ao Oriente (Leste), tendo à direita o Sul (meridião) e à esquerda o Norte (setentrião). A Coluna Vestibular B (a esquerda de quem entra) marca a passagem do Trópico de Câncer (Norte) enquanto que a Coluna Vestibular J (a direita de quem entra) assinala a passagem do Trópico de Capricórnio (Sul). Entre elas, ao centro, no sentido longitudinal do espaço se apresenta a linha imaginária do Equador (vai do centro da porta de entrada até o Oriente) que divide as Colunas do Norte e do Sul, cujos respectivos "topos" correspondem às paredes do Norte e do Sul limitadas pela grade do Oriente e pela parede Ocidental. Por sua vez, nesses "topos" se localizam em dois grupos de seis as Colunas Zodiacais que marcam as constelações do Zodíaco, cujos alinhamentos com o planeta Terra (inclinado em aproximados 23º no seu plano de órbita) no movimento de translação, demarcam as estações terrenas nos seus respectivos hemisférios.

Como a questão está sob o ponto de vista do "Hemisfério Norte" (onde nasceu o Rito), a Primavera (renascimento da Natureza) começa em Março - o Aprendiz recém-saído da Câmara e, segue os Ciclos de três em três até morrer para renascer - infância, juventude, maturidade e morte (primavera, verão, outono e inverno - Aprendiz, Companheiro e Mestre). Esse é o alicerce principal onde se apoia a escalada iniciática do simbolismo escocês, ou seja: o Aprendiz no Norte, o Companheiro no Sul e o Mestre no Oriente e dali para todos os quatro cantos do Orbe.

Como a questão é do simbolismo1, ou simbólica2 a Maçonaria não dá uma interpretação literal da geografia e das toponímias da Loja, senão o ponto de vista do seu nascimento, que volto a repetir: é a do hemisfério Norte do planeta Terra. Assim a decoração da Abóbada também se relaciona ao hemisfério citado que é o berço do Rito em questão onde aparecem as luminárias (Sol e a Lua), estrelas principais, constelações e planetas, todos identificados também sob o ponto de vista boreal (norte). A questão principal é a de entender a doutrina do Rito e não uma interpretação de acordo com a situação geográfica. A Maçonaria não pretende dar aula de astronomia nem de geografia, muito menos influenciar os seus adeptos com concepções particulares dos ocultistas.

As alegorias e os símbolos são exemplos comparativos e não afirmações literais, daí o ponto de vista tradicional como se o Maçom vislumbrasse todo esse teatro alegórico das latitudes boreais do nosso Planeta (acima da linha do Equador).

Não deve existir a preocupação se nos situamos na meia-esfera inferior (Sul). Tudo é simbólico e o importante mesmo é compreender a mensagem do que significa esse aperfeiçoamento proposto. Essa é a escola do simbolismo - interpretação sem licenciosidade.

A interpretação simbólica se diferencia da literal, já que se tomássemos tudo ao pé da letra, haveria um tabelião oficial para o testamento simbólico na oportunidade da iniciação, um agente funerário tanto na Iniciação quanto na Exaltação. O que aconteceria com o protagonista golpeado? E os Templos. Seriam eles obrigatoriamente construídos conforme a orientação do nascer do Sol (Leste-Oeste). O Venerável obrigatoriamente ficaria de costas para o Leste? E por aí vamos.

Então que "estória" e essa de certos incentivos publicados incitando os Irmãos a procurarem "chifres na cabeça do cavalo" querendo propor mudanças no Rito Escocês e alteração nos seus Rituais? Ao incentivador desses absurdos caberia perguntar se o Rito seria praticado conforme o Hemisfério. Também deixo aqui uma pergunta: Esse tipo de incentivo de colocar "minhocas" na cabeça dos outros é oriundo de regularidade maçônica? De qual Obediência e Loja estaria partindo esse tipo de proposta?

Devo salientar que não estou aqui discutindo geografia e astronomia, senão simbolismo maçônico oriundo de um Rito, que inclusive sou dele Secretário Geral no GOB.

Portanto, meus Irmãos eu os concito a compreenderem a essência doutrinária, filosófica, moral e ética dos ensinamentos maçônicos despidos de quaisquer interpretações que envolvam crenças pessoais, sejam elas religiosas ou ocultistas.

Não dêem crédito aos tais "nós na cabeça" como inversões das toponímias da Loja. Sejam elas as palpáveis, bem como as abstratas.

Estes sugerem hoje a alteração da Abóbada, e amanhã? A inversão das Colunas? A posição dos Aprendizes? O que mais?

Aliás, sugiro aos que enveredam para essas propostas de alterações, que antes criem o seu próprio rito, sugerindo-o para a sua Obediência nos conformes da Lei e, se legalmente adotado que assim seja mais rito um praticado. Penso que essa atitude seria muito mais coerente do que aquela que de quando em quando sugere desenterrar carcaças de dinossauro.

1 Simbolismo (De símbolo + - ismo). Substantivo masculino. 1. Expressão ou interpretação por meio de símbolos. 2. Escola literária do fim do séc. XIX, que se originou na França, surgida como reação contra o parnasianismo, e que, caracterizando-se por uma visão subjetiva, simbólica e espiritual do mundo, adotou novas formas de expressão, traduzindo as impressões por meio de uma linguagem em que dominava a preocupação estética. 3. Escola de tendências análogas, nas artes plásticas e na música.

2 Simbólico (Do gr. symbolikós, pelo lat. symbolicu). Adjetivo. 1. Referente à, ou que tem caráter de símbolo. 2. Alegórico; metafórico. 


Pedro Juk

jukirm@hotmail.com

Morretes-Paraná em abril/2014.


ENSAIOS RESUMIDOS I

O QUE UM MAÇOM DEVERIA SABER

I - INTRODUÇÃO.

Por vaidade e preocupação de que a origem da Maçonaria é antiguíssima, muitos Maçons deixaram se arrastar pelo erro dos símbolos e pelos costumes das Lojas. Em vez de investigar como se introduziram tais costumes na Maçonaria, preferiram abraçar a ideia de que eles derivaram da própria Instituição - Século XIX - Findel in "Geschichte des Freimaurerei", (A História da Maçonaria).

Dentro da estrutura doutrinária oriunda dos Ritos e Trabalhos maçônicos da Moderna Maçonaria, indubitavelmente, além de todo o corolário simbólico, tanto autêntico como especulativo, existem outras características ligadas diretamente à proposta de aperfeiçoamento haurida das manifestações do pensamento humano em geral dado ao fundamento eclético que identifica a Sublime Instituição.

Nesse sentido, dentre outros, as datas e períodos solsticiais e equinociais sempre estiveram ligados aos procedimentos maçônicos, sejam eles de conduta operativa, sejam eles de conduta especulativa. Assim eles permaneceriam mais tarde também na decoração dos espaços de trabalhos maçônicos - Templos, Lojas, ou Salas das Lojas - de acordo com os diversos sistemas praticados, seja como um símbolo específico, seja como uma alegoria iniciática.

Essas relações geralmente buscam explicar na escola maçônica, os fundamentos oriundos dos cultos solares da antiguidade que seriam a base da imensa maioria das religiões conhecidas.

Nesse particular, não existe aqui qualquer afirmativa que a Maçonaria seja uma religião, entretanto é inegável essa influência sobre os Canteiros Medievais que dariam origem à Franco-Maçonaria e posteriormente à Moderna Maçonaria, esta então imbuída no aprimoramento do Homem como elemento principal da sua matéria-prima. Enfim tudo na Maçonaria foi sabiamente constituído para que o Maçom siga à vontade os mandamentos da própria crença, sem ferir a consciência de qualquer de seus Irmãos.

Por assim ser, segue sob essa óptica e em formato de um breve ensaio uma sequência de assuntos pertinentes que a nosso ver são inquestionavelmente apropriados para a melhor compreensão da "arte de construir especulativa".

Dando início à jornada, ainda que de modo sintético, serão aqui abordados apenas aspectos relacionados às festividades pascalinas e o seu elo com o equinócio de primavera no Hemisfério Norte - a Ressurreição da Vida (Natureza).

II - A PÁSCOA.

PÁSCOA (do hebraico pesach (1) pelo grego Páscha, pelo latim clássico Pascha) - Substantivo feminino. 1. Na época pré-mosaica, festa da primavera de pastores nômades. 2. Festa anual dos hebreus, transformada em memorial de sua saída do Egito. 3. Festa anual dos cristãos, que comemora a ressurreição de Cristo e é celebrada no primeiro domingo depois da lua cheia do equinócio de março.

Os judeus a celebram do 14º dia do primeiro mês Nissan (2) ao seu 21º dia, quando todo varão israelita deveria peregrinar até Jerusalém para celebrar a "passagem", ou a Páscoa. O título de "passagem" designa para os israelitas à data instituída em comemoração a libertação desse povo do jugo egípcio, quando o Anjo da Morte feriu de morte os primogênitos do Egito. Momento oportuno em que Moisés conduziu o seu povo em direção à Terra Prometida - a "passagem" da escravidão para a liberdade; da escravatura no Egito para a liberdade na Terra prometida; a travessia do Mar Vermelho seguindo o sinal indicado pela coluna de fumaça e de fogo [Êxodo (3) - segundo livro do Antigo Testamento; da Torá, ou da Lei mosaica; Pentateuco].

Assim toda família judia se reunia na tarde do 14º dia do primeiro mês Nissan para o ritual do Cordeiro Pascal, consumindo pães ázimos (sem fermento) acompanhado na refeição de ervas amargas, cujo intuito era o de relembrar o amargor dos dias de cativeiro no Egito.

A Páscoa, também conhecida como a Festa dos Pães Ázimos (Da Proposição) perdurava oito dias e o primeiro e o último eram santificados com o Shabbath4.

No simbolismo Cristão a data se apresenta como a morte de "Jesus Cristo" e a sua ressurreição ocorrida durante a celebração da Páscoa. Assim a data coincide com a páscoa judaica, já que "Cristo" fora crucificado na véspera dessa mesma páscoa, sendo que desde os mais remotos tempos da cristandade esta também é tida como a maior festa dos cristãos.

Em linhas gerais a "Ressurreição de Jesus", ou o triunfo do Espírito ressuscitado destaca a imortalidade espiritual. Não é por acaso que a festa pascal obedecendo à tradição dos cultos solares da antiguidade ocorre no primeiro mês (Nissan) do ano religioso hebraico que coincide com o período equinocial ou a "passagem do Sol" do hemisfério Sul para o Norte (primavera - ressurreição da vida - a Natureza revive após o inverno - a passagem do inverno para a primavera). Assim a festa cristã é celebrada no primeiro domingo após o plenilúnio [lua cheia)]ocorrido após o dia 21 de março [data do equinócio (5) de primavera no hemisfério boreal]. Dentro desse limite a data pascal ocorrerá sempre entre 22 de março e 25 de abril.

Sem qualquer proselitismo religioso, porém para esclarecimento e introspecção, cita-se aqui a Epístola de São Paulo aos Hebreus quando aventa que a imolação do cordeiro é referência à imagem da realidade que se verificou e que o "Cordeiro de Deus" seria o próprio "Cristo".

A preparação para a Páscoa cristã realmente começa na quaresma (quarenta - número penitencial) - quarenta dias de penitência, cujo auge é alcançado no Domingo de Ramos e simboliza a entrada triunfal de "Jesus" em Jerusalém, uma semana antes da Páscoa, aplaudido pela mesma multidão que "O" veria morto e crucificado no final da semana.

Esse teatro alegórico importa ao Maçom e à Maçonaria quando sugere a lição do aperfeiçoamento natural. A Páscoa se associa à comemoração da morte do inverno (trevas) e a recuperação da vida - atmosfera simbolicamente ligada à ressurreição da vida (os cultos solares da antiguidade). É sob esse prisma que surge a máxima maçônica de relação iniciática - morrer para renascer.

Essa similitude com os cultos solares implica no tema com a prevalência da Luz sobre as trevas, como é o caso do sábado de aleluia cristão e a ressurreição no domingo seguinte (Páscoa). A mesma relação também se encontra na páscoa judaica, ou a passagem do povo hebreu do jugo tenebroso da escravidão para o alvorecer da liberdade e a busca da terra prometida.

A ressurreição de "Jesus", despida de prosélitos religiosos demonstra um profundo sentido para reflexão do Homem - das trevas do sepulcro da morte (inverno) para a Luz Celestial, o que em linhas gerais significa o ato da redenção.

Indubitavelmente essa alegoria destaca-se simbolicamente na passagem aparente do Sol do Sul para o Norte, findando o inverno dos dias curtos e das noites longas e o desabrochar da primavera - a ressurreição da Natureza dando cumprimento ao início de mais um ciclo natural - a mãe Terra começa a ser aquecida pelos raios vivificantes do Sol espalhando a vida em um renascer contínuo pelo efeito da "Luz". Mensagem dita nos Canteiros da Maçonaria como a maior Glória do Arquiteto Criador.

III- DESFECHO DESSE ENSAIO RESUMIDO.

Para a Maçonaria saliente-se que essa abordagem não envolve dogmas religiosos, senão uma comparação que visa o aprimoramento do Homem sugerido pela escalada iniciática e sem qualquer intuito de desrespeitar as crenças individuais.

Ressalte-se ainda a importância das influências culturais e mesmo religiosas no seio da Moderna Maçonaria. Nessa proporção estão os seus Ritos e Trabalhos com os seus costumes culturais das diversas latitudes terrenas. Dentre outras, a missão do Maçom é também a da investigação da Verdade através dos métodos imparciais da pesquisa e da história, bem como se despir das concepções anacrônicas.

Para o Maçom sobreleve-se nesse breve ensaio a importância dos termos relacionados à: "vida, morte, ressurreição, passagem, aperfeiçoamento, ciclos, Luz e trevas"

Se bem compreendida a Arte o Maçom poderá perceber que para toda manifestação humana, seja ela cultural, ou religiosa, haverá sempre uma explicação coerente e verdadeira. Seria então oportuno salientar que a ignorância e a superstição são os verdadeiros flagelos da Humanidade, portanto, também inimigos da Maçonaria.

NOTAS.

(1) Pesach - Significa em hebraico: passagem.

(2) Nissan - 1º mês do calendário hebraico, cujo primeiro dia desse mês dá-se em 21 de março e o último em 20 de abril. É o início do ano místico hebraico - equinócio de primavera no hemisfério norte.

(3) Segundo a Bíblia (Livro do Êxodo), Deus mandou 10 pragas sobre o Egito. Na última delas, disse Moisés que todos os primogênitos seriam exterminados (com a passagem do anjo por sobre suas casas), mas aqueles (Israelitas ou Egípcios) que seguissem suas instruções seriam poupados. Para isso, deveria sacrificar um cordeiro, passar o sangue do mesmo sobre as ombreiras das portas de suas casas e não deveria delas sair, assim, o anjo passaria por elas sem ferir seus primogênitos. Todos os demais primogênitos do Egito foram mortos, do filho do Faraó aos filhos dos prisioneiros. Isso causou intenso clamor dentre o povo egípcio, que culminou com a decisão do Faraó de libertar o povo de Israel, dando início ao Êxodo de Israel para a Terra Prometida. A Bíblia judaica institui a celebração do Pesach em Êxodo 12, 14: "Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o como uma festa em honra de Adonai: Fareis isto de geração em geração, pois é uma instituição perpétua".

(4) Shabbat - Dia da Criação - sábado (Do hebraico shabbath, pelo latim Sabbatu). Substantivo masculino. 1. O sétimo dia da semana, começada no domingo. 2. Dia de descanso, ou de descanso religioso, entre os judeus. 3. Sábado de aleluia - o da semana santa; sábado santo.

(5) Equinócio (Do latim aequinoctiu). 1. Ponto da órbita da Terra em que se registra uma igual duração do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro. 2. Qualquer das duas interseções do círculo da eclíptica com o círculo do equador celeste: equinócio da primavera, ou ponto vernal, e equinócio do outono, ou ponto de Libra. 3. Instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste. 

(6) Teutônico (do latim teutonicu). Adjetivo 1. Relativo aos teutões, ou aos germanos. 2. Relativo à Alemanha e aos alemães. 


Pedro Juk

Morretes-Paraná, Abril/2014.


APÊNDICE - ENSAIO RESUMIDO I

Tradições pagãs na Páscoa - os Ovos de Páscoa - haurido do Antigo Egito, o costume de se entregar ovos vem dos teutões (6), já que o ovo era o símbolo da vida e da fertilidade. O mesmo era proibido durante a quaresma e só reaparecia no cardápio de domingo da ressurreição.

É ainda hoje comum em grande parte dos países a prática de pintar ovos cozidos, decorando-os com desenhos e formas abstratas, embora que em outros, os ovos tenham sido substituídos por ovos de chocolate desde o Século XVIII.

Como o costume não é citado na Bíblia, porém mencionado em antigos rituais pagãos, o hábito acaba por se reportar ao caráter profano dessa tradição. A primavera, coelhos e ovos pintados com eram os símbolos da fertilidade e renovação.

Ainda de interesse de estudo do maçom e o aspecto da transformação, sugere-se o estudo e investigação, sobretudo para os ritos que possuem a Câmara de Reflexão, naquilo que aborda a menção da alquimia e em particular o símbolo do ovo alquímico - estudos para o Grau de Companheiro.

O próximo enunciado, "Ensaio Resumido II", pretende abordar o solstício de Verão no Hemisfério Norte e João, o Batista, na Maçonaria.



SIMBOLISMO DO TEMPLO - ENSAIO I

RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

Dadas às inúmeras especulações, inclusive com algumas propostas inoportunas e impróprias que destacam inclusive alterações na decoração simbólica do Templo do Rito Escocês Antigo e Aceito, tenho me deparado com algumas questões oriundas de Irmãos preocupados com o tema quando então solicitam esclarecimentos. Alguns casos inclusive, se apresentam nas Lojas que estão na iminência de construir as dependências do seu próprio Templo, ou mesmo quando da oportunidade de reforma-lo.

Nesse particular, além daquelas propostas que de quando em quando sinistramente se apresentam tentando induzir equivocadamente a inversão da topografia [1] do Templo, ainda há o aspecto do modernismo e da própria decoração que tem se apresentado aos gostos muitas vezes particulares, sem a má intenção talvez, mas até pela falta de conhecimento mais profundo do Rito praticado e sua autêntica substância histórica bem como seu fundamento ideológico proposto na disciplina - aprimoramento do Homem através da vereda iniciática que independente de Rito é o objetivo da Moderna Maçonaria.

No tocante à decoração, além da sua própria deturpação às vezes imposta por certos rituais repletos de enxertos e achismos, ainda se apresentam também, não em raras oportunidades, elementos religiosos oriundos da fé particular do Homem assim como aquele do caráter de "antiguidade" que alguns querem dar à Ordem Maçônica decorando seus templos com motivos egípcios, muito especialmente com pirâmides, hieróglifos assim como outra ornamentação embasada em lendas bíblicas tal qual a do Templo de Jerusalém, como se a Sala da Loja fosse uma cópia fiel desse específico ideário lendário.

Tenho derramado rios de tinta tentando esclarecer que o Franco-Maçônico básico é simbólico e os Templos Maçônicos da autêntica Maçonaria Modena representam um canteiro de obras, ou oficina de trabalho onde se destacam os formatos de aperfeiçoamento humano conforme a doutrina de um rito específico sejam eles de vertente teísta  [2] ou deísta [3]. O importante é que tudo se aplica pela ferramenta do simbolismo como método de comparação e exemplo. Daí a o título de Maçonaria Simbólica.

Destaque-se então a sua interpretação simbólica, sem licenciosidade, e nunca uma interpretação literal. Aliás, sob a óptica do termo literal o que vigora mesmo é a prática e a vivência iniciática, ou seja: que realmente o Homem se transforme em um elemento saudável como modelo integrante de uma sociedade acima de tudo justa, fraterna e igualitária (da Pedra Bruta à Pedra Cúbica).

Dados esses breves pormenores, é que todos os Ritos, ou Trabalhos do Craft [4] oriundos do Hemisfério Norte, aqui em particular o Rito Escocês Antigo e Aceito (que é de origem francesa), assumem esse caráter regional do ponto de vista daquele que se situa na meia esfera boreal [5] do nosso Planeta.

Assim o Templo do Rito Escocês, ou Oficina de Trabalho se relaciona a um pequeno segmento sobre a superfície da Terra cujos limites e confrontações ficam assim também definidos: largura de Norte para Sul; comprimento de Leste para Oeste; altura da superfície (pavimento mosaico) ao céu (abóbada) e profundidade do solo (pavimento mosaico) até o centro da Terra. Também é nesse teatro que do ponto de vista da Terra veem-se os movimentos dos astros e do próprio Planeta em torno do Sol o que resulta nas quatro estações do ano. Essa evolução da Natureza apresenta resultados opostos conforme o hemisfério terreno e pelas circunstâncias desses movimentos aparentes os mesmos acabariam sendo balizas como os solstícios e equinócios para todos os cultos solares da Antiguidade (Colunas B e J) e que seriam a base das principais religiões até aqui conhecidas.

A Maçonaria, embora não seja ela uma religião, é inegável que a mesma sofrera influência da Igreja Católica desde a sua autêntica existência há aproximadamente oitocentos anos - associações monásticas, confrarias leigas e posteriormente a Franco-maçonaria com as Lojas de São João nos solstícios de verão e inverno.

Particularmente o Rito Escocês Antigo e Aceito, como parte integrante da Moderna Maçonaria, cuja doutrina pela sua origem francesa embasa o aperfeiçoamento humano comparando-o com as Leis da Natureza, sugere essa alegoria natural também na decoração do seu Templo Simbólico relacionado sempre à meia esfera Norte do nosso Planeta. Nesse pormenor iniciático está representado à senda iniciática dos três Graus Simbólicos, desde a Câmara de Reflexão à passagem pelo Norte, pelo Sul e o destino final no Oriente - Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Em linhas gerais essa alegoria assim se resume: Interpretação simbólica da Câmara de Reflexão e o renascimento. O Homem morre para renascer - a semente e a nova espécie (neófito [6] - néo = novo; phytos = planta). O renascimento está representado pela Primavera, ou a ressurreição da Natureza (após a sua morte no inverno) - Equinócio em 21 de março no Hemisfério Norte. O Aprendiz pelo topo do Norte segue pela estação primaveril ou infância constituída pelas três primeiras Colunas Zodiacais a partir do Ocidente próximo ao Primeiro Vigilante (constelações de Aries, Touro e Gêmeos). Prosseguindo a jornada pelo Norte o Aprendiz representa a adolescência, ou o Verão, ciclo constituído pelas outras três Colunas (constelações de Câncer, Leão e Virgem). Pronto para servir o Mestre, agora Companheiro (juventude, ação e trabalho) segue o percurso cruzando o equador (eixo do Templo) do Norte para o Sul, ou para a perpendicular ao nível, e segue pelo topo do Sul a partir das proximidades da grade do Oriente pelas três outras Colunas Zodiacais (constelações de Libra, Escorpião e Sagitário - Outono). Da a juventude para a maturidade pelas próximas três últimas Colunas (constelações de Capricórnio, Aquário e Peixes). Essa última etapa, a do Inverno, sugere a senilidade da idade vetusta e a experiência do Mestre (eis que chegará o tempo em que tu dirás: essa idade não me agrada). Assim se completa o ciclo iniciático nessa importante alegoria representada no Templo simbólico do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Dentro desse contexto é então oportuno ilustrar através dessa importante alegoria, quando as dúvidas se apresentam na decoração autêntica do Templo e da Loja. Nesse particular segue uma consideração que enviei quando me fora apresentada uma sugestão para uma moderna decoração de um Templo por ocasião de uma nova edificação. Naquela oportunidade o consulente apresentou as sugestões decorativas que, embora belas, não atendiam o que preceitua a doutrina do Rito em questão. Sem a necessidade de descrever o projeto sugerido, segue descrita a resposta enviada que entendo sirva também como reforço para esclarecer a matéria, ao mesmo tempo em que alvitra mais reflexão sobre o tema. Então, eis a resposta:

Meu Irmão, sob o ponto de vista iniciático o Oriente da Loja é o Nascente - "romper a aurora e iniciar um novo dia". O Ocidente é o ocaso, ou o poente - "o Sol se oculta no ocidente para findar o dia". Daí a Lua estar colocada sobre o Primeiro Vigilante e o Sol acima do Venerável (comentário - a sugestão na oportunidade era a do alvorecer na parede Norte e entardecer no Sul).

Ainda, sob o mesmo ponto de vista a Coluna do Norte é o lado com menos luz, ou com mais sombras o sob o ponto de vista do hemisfério Norte pela inclinação e plano de órbita da Terra. Assim como o Meio-Dia ou Sul é o mais iluminado e por onde passa o Sol na sua marcha diária - vide o Painel da Loja e posição das três janelas. Assim me parece que a decoração não contempla esse simbolismo. Embora muito bonita sob o ponto de vista plástico, ela é contrária à jornada iniciática, inclusive com relação às Colunas Zodiacais que divididas em grupos de três representam as estações do ano partindo da constelação de Áries no Hemisfério Norte da Terra (ao lado do Primeiro Vigilante) e terminando no Sul na constelação de Peixes - Ciclo da Natureza e o Ciclo da Vida - Arcabouço doutrinário do REAA. Sinceramente eu nunca vi amanhecer e entardecer no sentido Norte - Sul, senão Oriente - Ocidente (Lei Imutável da Natureza).

Atrás do Venerável, onde estão posicionadas às luminárias (Sol e a Lua) bem como o Delta, se localiza o chamado segundo painel, ou Retábulo do Oriente (parede imediatamente à retaguarda do Venerável) que consta inclusive no Ritual (GOB). Assim esse retábulo é liso e não possui nenhuma decoração, salvo as Luminárias, o Delta, a frisa com a Corda de 81 nós, cujo nó central se posiciona no alto e centro do Retábulo que coincide com o eixo longitudinal do Templo - Equador (comentário - na proposta era sugerida uma belíssima paisagem natural relativa à região).

No Delta haverá o Olho que Tudo Vê sem que seja estilizado com formato egípcio - isso não é particularidade do REAA (comentário - o projeto previa um Olho que Tudo Vê estilizado à moda egípcia, além de toda a parede oriental decorada nesse estilo).

Um Templo maçônico no caso do REAA representa um canteiro de obras situado simbolicamente sobre o Equador, cujos trópicos são marcados pelas Colunas Solsticiais B e J - Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul. O eixo divide no Ocidente as Colunas do Norte e do Sul, cuja orientação vai do Ocidente para o Oriente (lugar da Luz), final da jornada do Mestre igual à Natureza que morre para de novo renascer.

Todo o ponto de vista do Canteiro (Loja) está se referindo simbolicamente ao Hemisfério Norte (onde floresceu a Maçonaria e a sua esmagadora quantidade de Ritos). A Maçonaria possui aproximadamente oitocentos anos de história.

Os Símbolos falam por si sem qualquer licenciosidade e devem coincidir com a proposta de construir um novo Homem, cuja doutrina fora pensada e sedimentada no simbolismo da Natureza e o Ser Humano com parte dela integrante - Deísmo francês.

Apresentei essa resposta por acreditar que a mesma também serve para reforçar a compreensão do Maçom no tocante ao simbolismo tradicional que é o alicerce da base doutrinária da Maçonaria e de um Rito em particular, sem que com isso haja a necessidade em boa parte dos casos de se tomar uma interpretação literal e particular a cada indivíduo ou grupo dos símbolos maçônicos.

Assim, existem duas características imprescindíveis para a compreensão da Arte. A primeira é de realmente compreender a mensagem proposta sem a interferência de crenças e opiniões particulares. A segunda é aquela que nos ensina a Filosofia: na prática da vida o Homem deve vivenciar o aprendizado, ou ao contrário ele será um eterno e mero elemento contemplativo.

Em Maçonaria os símbolos falam por si. Essas chaves foram ali colocadas para desvendar os mistérios da investigação da Verdade. Nesse particular se faz cogente compreender a mensagem. Se para o Rito Escocês a Primavera é a ressureição, basta acompanhar e compreender a sua senda colocada conforme o nascimento do Rito. No Norte.

O importante é saber o que representa, por exemplo, a estação primaveril e o Aprendiz na doutrina iniciática. Não existe carência de inversão de hemisférios, alteração da decoração da abóbada, etc., conforme a latitude terrena. Basta entender que simbolicamente tudo está representado no Norte. Do mesmo modo dispensam-se as decorações pessoais que não condigam com a mensagem doutrinária.

Em sendo equinócio de Primavera na banda Norte do planeta Terra, para o simbolismo maçônico é isso o que verdadeiramente importa. Particularmente no Rito Escocês assim está representado no seu Templo pelas Colunas Zodiacais, Abóbada Celeste, a posição das Colunas Solsticiais B e J, os quadrantes da Loja e a posição das Luzes (o Venerável, o Primeiro e o Segundo Vigilantes). Agora se imagine inverter toda essa decoração por conta da "literal" interpretação. Afinal a Maçonaria não é uma escola de astronomia, geografia e nem mesmo de topografia. Também não é uma escola de ocultismo nem palco de proselitismo das crenças dogmáticas e religiosas. Que se viva sim literalmente, porém os ensinamentos coletivos hauridos da Sublime Instituição, cuja maior proposta é o bem viver comum e a construção de uma sociedade tolerante, justa e fraterna. Afinal é época de ressurreição e a Natureza revive no Hemisfério Norte. A Luz que começa a prevalecer sobre as trevas do Inverno que acabara de passar.

Concluindo, veja, por exemplo, o que representa no Cristianismo a ressureição e a morte de "Jesus". Essa alegoria religiosa se passa sempre na Primavera ao Norte (ressurreição), cuja "passagem" (Páscoa) ocorre no primeiro plenilúnio da Primavera contada após os quarenta dias penitenciais. Assim a Igreja simbolicamente não transfere a Páscoa para setembro no Hemisfério Sul por conta dessa tal literalidade. A questão é explicitamente simbólica, caso contrário a Páscoa no Sul seria comemorada em setembro ou outubro. E as demais datas comemorativas? Como ficariam?

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com.br

Morretes - Pr., Abril/2014

NOTAS

[1] Topografia (Do gr. Topographía). Substantivo feminino. 1. Descrição minuciosa de uma localidade; topologia. 2. Arte de representar no papel a configuração duma porção do terreno com todos os acidentes e objetos que se achem à sua superfície. 3. Descrição anatômica e particularizada de qualquer parte do organismo humano.

[2] Teísmo [De te (o)- + -ismo.] Substantivo masculino. 1. Filosofia. Doutrina que admite a existência de um deus pessoal, causa do mundo.

[3] Deísmo [De (i)- + -ismo.] Substantivo masculino. 1. Filosofia. Sistema ou atitude dos que, rejeitando toda espécie de revelação divina e, portanto, a autoridade de qualquer Igreja, aceita, todavia, a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do Universo.

[4] Trabalhos do Craft - Sistema maçônico da vertente inglesa que em particular não reconhece Ritos, senão Trabalhos no Craft (grêmio, associação).

[5] Boreal (Do lat. Boreale). Adjetivo de dois gêneros. 1. Do lado do norte; situado ao norte; setentrional. 2. Bot. Diz-se das plantas próprias do hemisfério norte. Ver aurora - (Antônimo - austral, meridional).

[6] Neófito (Do grego neóphytos, pelo latim. tardio neophytu). Substantivo masculino. 1. Na Igreja primitiva, indivíduo recentemente convertido ao cristianismo. 2. Aquele que recebeu ou acabou de receber o batismo. 3. Noviço. 4. Indivíduo admitido há pouco em uma corporação. 5. Por extensão - o principiante, o novato.


LEITURA DO LIVRO DA LEI - GRAU DE COMPANHEIROAMÓS

RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

I - INTRODUÇÃO:

Em atenção a rogativas que eu tenho recebido, destas muitas relacionadas à leitura em Amós do Livro da Lei durante a abertura da Loja no Segundo Grau, é que resolvi condensar esse pequeno escrito sobre o tema que, embora não tenha a pretensão de esgota-lo, pelo menos tende a despertar mais atenção para esse importantíssimo procedimento ritualístico do não menos admirável e tradicional grau de Companheiro Maçom.

Para que não pareça um tema generalizado em relação à Maçonaria, cabe então aqui salientar que a leitura desse trecho do Livro da Lei durante a abertura dos trabalhos da Loja não é unânime na prática maçônica, senão como parte integrante da liturgia de alguns Ritos que compõem a Maçonaria. Assim, em relação à leitura em Amós 7 no Segundo Grau, esse costume teria surgido no Yorkshire - Inglaterra e posteriormente abandonado pelo Craft inglês, todavia permaneceria como prática em outros ritos maçônicos, como é o caso do Segundo Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito.

II - AMÓS.

Personagem tido como profeta do Antigo Testamento e autor do Livro de Amós, ele era nativo de uma pequena cidade de nome Tekua nos limites do deserto de Judá, próximo à Jerusalém. Considerado com um dos doze Profetas Menores [1], ou os Doze Últimos Livros Profético, cujo título, assim ficaria conhecido, devido ao seu pequeno volume literário.

Amós, cujo significado etimológico, segundo alguns autores, designa aquele que auxilia a transportar carga, ou que em hebraico significa "levar", estaria ainda ligado à forma abreviada da expressão Amosiá - "Deus levou".

Ele era um homem de origem humilde, condutor de gado e agricultor que laborava no cultivo de uma espécie de fruto comestível muito parecido com figo, comum àquela região.

Mais tarde Amós (760 a.C.) abandonaria a sua vida tranquila de camponês para pofetizar e denunciar episódios acontecidos durante o reinado de Joroboão II, quando este atingira a sua máxima prosperidade. Esse mesmo reinado então seria também acompanhado do aumento da luxúria, do vício e da idolatria. Nessa conjuntura, a magnificência luxuosa dos ricos ultrajava a miséria dos fracos e dos oprimidos, bem como o esplendor do culto dissimulava a carência de uma religião verdadeira. Amós seria, portanto convocado por "Deus" para advertir ao povo de Israel sobre a existência da "Sua Lei pautada na equidade" alertando e chamando o povo ao arrependimento. Ao cumprir os desígnios de "Deus", Amós com altivez apontava toda aquela situação com rudeza simples e altiva de um homem oriundo do campo. Seu pronunciamento incomodava, sobretudo as classes abastadas e sacerdotais, (Juízes) porque ele ao anunciar a justiça e o julgamento de "Deus" alcançava além das nações pagãs, objetivamente também o povo escolhido que já se considerava salvo, embora no exercício da vida fosse mesmo pior do que os pagãos.

NOTA - os destaques em negrito relativos às palavras equidade e justiça até aqui mencionadas, bem como as outras que porventura seguem a essa nota, salientam o objetivo da leitura do texto feita na abertura do Livro da Lei no Grau de Companheiro, cuja interpretação maçônica, mesmo que superficial, será o objetivo final dessa lauda.

Além da injustiça social, especificamente Amós denunciava os ricos que acumulavam cada vez mais riquezas para viverem em ostentação, o que muitas vezes criava um regime de opressão; as mulheres abastadas que, para viverem no luxo, estimulavam seus cônjujes a explorar os fracos; os hipócritas que roubavam e exploravam e depois se dirigiam ao templo para rezar, pagar dízimo e dar esmolas para aplacar a própria consciência; os Juízes que julgavam de acordo com os numerários auferidos pelos subornos; os inescrupulosos comerciantes que deixavam os pobres incapacitados de adquirir e comercializar suas mercadorias por preço justo.

Nesse contexto o Livro de Amós pertence ao Antigo Testamento da Bíblia e vem depois do Livro de Joel e antes do Livro de Obadias. A profecia deste livro integrante da Torá hebraica fora primeiramente dirigida ao reino setentrional de Israel e segundo alguns exegetas bíblicos teria sido em princípio proferida oralmente, cujos reinados coincidiram entre 829 e 804 a. C., sendo daí em diante assentada por escrito, presumivelmente após o profeta voltar a Judá.

Dentre todo o contexto de denúncia contra a injustiça social na construção de uma sociedade justa e as pregações, destacam-se os seguintes sete crimes de Israel: 1) a venda do justo por prata - desprezo ao devedor; 2) o indigente por um par de sandálias - escravização por dívidas ridículas; 3) esmagam sobre o pó da terra a cabeça dos fracos - humilhação e opressão dos pobres; 4) tornam torto o caminho dos pobres - o desprezo pelos humildes; 5) um homem e seu filho vão à mesma jovem - opressão dos fracos (das empregadas e escravas; 6) se estendem sobre vestes penhoradas, ao lado de qualquer altar - falta de misericórdia nos empréstimos; 7) bebem vinho daqueles que estão sujeitos a multas, na casa de seu Deus - mau uso dos impostos (ou multas).

Assim no Livro de Amós textualmente o profeta defende a justiça e a equidade e é em seu amparo que Amós vai profetizar. Em cinco visões simbólicas (dos gafanhotos e o fogo; o estanho e o fim do verão; a visão do santuário), Amós anunciaria o fim do Reino Setentrional de Israel, devido à situação precária, ou insustentável diante de Deus, cujas visões aparentam serem sinais que o profeta vislumbra no cotidiano da vida e simbolizam a conjuntura problemática à época da nação israelita.

Não obstante às cinco visões proféticas desde a praga de gafanhotos até a destruição do santuário, tem aquela em que Amós vê o "Senhor" (cap. 7, vs. 7-9) verificando o alinhamento de um muro com um fio de prumo. É justamente essa a que suporta a alegoria presente na Moderna Maçonaria durante a abertura e leitura do Livro da Lei no Grau de Companheiro Maçom.

Antes, porém de ingressar no assunto relativo à Maçonaria e a abertura do Livro da Lei envolvendo Amós, cabe aqui ainda outra consideração importante: O muro que está enviesado e desaprumado simboliza Israel, assim deverá ser primeiro demolido para ser novamente realinhado pela perpendicular (tinha um prumo nas mãos). Isso porque muro desaprumado não tem conserto. Só derrubando.

Amós nesse caso não intercederia suplicando ao "Senhor". É uma realidade corrupta que não tem conserto e a certeza do castigo pela justiça (prumo) torna-se cada vez mais premente "eu nunca mais passarei por ele".

Em linhas gerais é o prenúncio da destruição do Reino Setentrional de Israel já que no capítulo seguinte (cap. 8, vs. 1-3) Amós vê o cesto de frutas maduras que simboliza o fim do verão e o início do outono, estação que precede o Inverno e a morte da Natureza - o fim de Israel. É que na quinta visão Amós conta que, desta vez, é o próprio IAHWEH (IAVÉ) quem atua e de modo dramático. Diante do edifício do santuário o "Senhor" bate nos capitéis provocando um terremoto que destrói o santuário e extermina as pessoas que lá estavam abrigadas.

Esta visão é o ponto máximo e epílogo deste ciclo. O próprio Senhor volta-se contra o local no qual se lhe prestava culto. Na visão de Amós, o santuário (de Betel[2]) traiu seu papel de conduzir o povo a "Deus" e à vida. Tornou-se um lugar de culto sem sentido, amparando e ocultando as múltiplas opressões e injustiças que se cometiam no Reino do Norte.

III - LEITURA DO LIVRO DA LEI - 2º GRAU MAÇÔNICO - EXEGESE:

O Segundo Grau, ou de Companheiro Maçom indiscutivelmente é o Grau mais genuíno da Maçonaria que, infelizmente e equivocadamente tem sido tratado por algumas Obediências como um Grau intermediário. Na sua tradicional existência oriunda desde os canteiros medievais, possui a pragmática inerente à juventude, ação e trabalho - em síntese o Companheiro é o elemento que "eleva" a Obra e a dá por concluída no final do outono, antes que o inverno prive a Terra da Luz. Dentre outros, os seus simbólicos cinco[3] anos de aperfeiçoamento soam equânimes com o sentido lato da justiça e da equidade na construção social, cuja obra especulativa da Moderna Maçonaria o Companheiro a eleva aprumando os cantos (o prumo não pende como as oblíquas).

O Companheiro quando passa para a perpendicular ao Nível (em Loja, do Norte para o Sul, ou do Nível para o Prumo), de modo especulativo ele está aplicando as suas ações (trabalho) na vida, desde que suportada pela justiça (Prumo).

Existe a máxima de que não há retorno para a vida, assim, se quiseres bem aproveitá-la, pensa na morte (eis que porei um prumo no meio do meu povo Israel[4]; e jamais passarei por ele).

A Obra da Vida pautada na justiça é um dos motes iniciáticos maçônicos na transformação inerente ao segundo ciclo da existência. Juventude (meio-dia) para a maturidade (meia-noite).

A Obra perene é o exemplo de vida deixado. Assim, a alegoria de Amós aplicada no Segundo Grau tem por objetivo conduzir o Obreiro a uma reflexão antes que chegue o tempo em que ele dirá: essa idade não me agrada! (a implacável aproximação da morte [inverno] e a destruição do Templo).

Como Amós, a Maçonaria procura lembrar ao homem Maçom que ele certamente terá através da sua consciência a visão do muro e do prumo nas mãos. Certamente a consciência lhe dirá: o que vês tu? A questão é: a parede estará ou não levantada a prumo? Como o inverno se avizinha ninguém mais passará por ele - não haverá mais tempo para reconstruir uma parede que por ventura tenha sido construída fora do prumo (pensai na morte; a efemeridade da vida).

III - CONSIDERAÇÃO FINAL

O Prumo, a Justiça e a Equidade - essa tríade expressa à lição de se ter pautado a vida com disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um. Tal como Amós, o dever de possuir um sentimento de justiça avesso a qualquer critério de desigualdade e tratamento ilegal. O muro levantado a prumo suporta um conjunto de princípios imutáveis de justiça que induzem o juízo da consciência a possuir um critério de moderação e de igualdade, ainda que em detrimento do direito objetivo.

Amós e a abertura do Livro da Lei importam nos elementos alegóricos que aludem àquele que busca aprimoramento norteado para uma vida de igualdade, retidão e equanimidade.

Superficialmente é o que se pode considerar.

Pedro Juk

jukirm@hotmail.com

ABRIL/2014

NOTAS

[1] Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Sacarias e Malaquias. [2] Betel - a casa do Senhor. [3] As cinco visões proféticas. [4] Israel aqui significa o Templo Interior, o Homem e, por conseguinte a Obra da Vida. Em tradução livre do hebraico Israel significa "o combatente de Deus".


SÃO JOÃO E OS SOLSTÍCIOS NA MAÇONARIA.

Embora o assunto já tenha sido exaustivamente debatido e esclarecido por autores autênticos da Maçonaria, ainda muitas dúvidas campeiam o solo maçônico no que diz respeito às figuras patronais de João, o Baptista e de João, o Evangelista.

Nesse sentido, tenho recebido muitos pedidos de esclarecimento sobre o assunto através do Consultório Maçônico José Castellani da revista A Trolha de Londrina, PR, assim como pelo diário eletrônico JB NEWS in Perguntas e Respostas - Florianópolis, S.C.

Dado ao exposto seguem as seguintes considerações sobre o tema:

Para o esclarecimento necessário dessa questão e para que não se caia no campo das suposições "inventando" padroeiros para a Maçonaria só porque esse ou aquele Rito pretende identificar um "santo" em particular, é antes imprescindível que o estudante conclua que a questão não é só a de identificar um padroeiro para um Rito específico, senão antes identifica-lo como um patrono de toda a Maçonaria, independente dos Ritos e Trabalhos nela praticados (as Lojas de São João).

Nesse pormenor seria lógico antes se compreender a razão dessa escolha ou costume como parte integrante da história da Sublime Instituição. É, portanto imperativo que antes se entenda o porquê dessa relação que envolve as datas comemorativas dos "santos padroeiros - Baptista e Evangelista" como uma espécie de patronos da Maçonaria.

Desde quando? Qual a razão de João, o Baptista e João, o Evangelista aparecerem nesse misto de respeito religioso e alegoria simbólica intrínseca à Maçonaria? Por que a Moderna Maçonaria ainda mantém essa tradição?

Sem ter a pretensão de aqui querer ensinar astronomia e geografia, o tema, entretanto merece ser identificado tanto pela feição científica, bem como pela cultural que envolve as crenças pertinentes aos cultos solares da antiguidade - base de grande parcela das religiões conhecidas.

Essa explicação, embora condensada, está no fato de que o planeta Terra além de girar em torno do seu próprio eixo em um ciclo diário e noturno totalizando vinte e quatro horas (rotação), também o Planeta se desloca no espaço em uma trajetória elíptica (elipse) ao redor do Sol (translação), cuja viagem completa resulta no período conhecido por "ano" (arredondados trezentos e sessenta e cinco dias).

Em seu deslocamento elíptico ao redor do Sol, a Terra estará no seu trajeto mais, ou menos afastado do Sol o que implica no Planeta estar em periélio - o ponto de órbita com menor afastamento distando 147 milhões de quilômetros e em afélio - ponto de órbita com maior afastamento com 152 milhões de quilômetros de distância. Assim o afélio se opõe ao periélio, e vice-versa.

Como a Terra no seu trajeto elíptico em torno do Sol mantém uma inclinação constante em relação ao seu plano de órbita (norte-sul) de 23 graus e 27 minutos, o movimento faz com que as duas regiões terrenas divididas pela linha imaginária do equador e conhecidas como hemisférios (meias-esferas), recebam a incidência de mais, ou menos raios solares, ou ainda estes por igual conforme a localização na sua trajetória ao redor do Sol.

Pela não coincidência do plano de órbita com o plano do equador, do ponto de vista daquele que estiver situado na Terra, esse movimento simula a ilusão de como fosse o Sol a se movimentar em torno da Terra. O trajeto dessa revolução imaginária é conhecido como eclíptica, ou a passagem do astro pelo círculo máximo da esfera celeste - é a interseção da esfera com o plano de órbita. Assim os limites, ou pontos máximos dessas inclinações nesse movimento aparente, tanto no Norte, como no Sul, quando o Sol atinge a sua maior distância angular do equador cessando o seu afastamento, ocorrem os dois solstícios [1] que marcam o início do verão e do inverno conforme o hemisfério terreno - inverno no Norte, verão no Sul, ou vice-versa.

Por ocasião do solstício no ciclo, ou estação do verão, devido a maior incidência de raios solares, prevalecem assim dias mais longos e noites curtas na sua duração. Já no ciclo do inverno, devido a menor incidência de raios solares, prevalecem as noites mais longas e dias curtos na sua duração. Os solstícios destacam-se no clima terrestre principalmente pela ocorrência do frio no inverno e do calor no verão.

Por outro lado, no que concerne a esse mesmo movimento aparente do Sol na sua eclíptica em direção ao solstício, quando passa de um para o outro hemisfério cruzando o Equador, marca a ocorrência do início da primavera e do outono conforme o sentido da marcha aparente. Do Sul para o Norte - primavera no hemisfério Norte e outono no Sul. Do Norte para o Sul - primavera no hemisfério Sul e outono no hemisfério Norte. O momento em ocorrem essas passagens ilusórias do Sol de um para o outro hemisfério sobre o Equador é que acontecem os equinócios [2].

Nessa situação de projeção zenital (equinócio - que dista igualmente), tanto no outono quanto no inverno, a incidência é igual de raios solares sobre a Terra. Esse atributo faz então com que os dias e noites sejam iguais na sua duração.

Devido à inclinação do planeta Terra no seu eixo Norte-Sul, bem como o seu movimento em torno do Sol (revolução anual e ilusória do Sol) é que ocorrem os ciclos naturais, conhecidos como as estações do ano - a primavera, o verão, o outono e o inverno - opostos conforme o hemisfério (verão - inverno, outono - primavera).

Não obstante essa relação astronômica, tal condição climática também faria com que as civilizações primitivas já distinguissem as épocas frias e quentes levando-os a organizar o seu modo de subsistência no trabalho agrícola.

Sob a óptica do Sol como fonte de luz e calor ele seria proclamado como divindade soberana e daria o suporte principal para os cultos solares da antiguidade. Com indelével influência sobre quase todas as religiões e crenças da humanidade, o homem imaginou os solstícios como portas por onde o Sol entrava e saia ao terminar o seu trajeto aparente (trópicos de Câncer e Capricórnio).

Sob o ponto de vista da Terra, as épocas solsticiais desde então seriam marcas astronômicas idealizadas pelos alinhamentos com as constelações de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul, o que sugeria, sob a óptica do misticismo, inclusive, uma relação com deuses pagãos que, mais tarde e sob a influência da Igreja, seriam elementos substituídos por santos do cristianismo. É o caso, por exemplo, do deus Janus (palavra latina que significa porta), agregado ao panteão romano, cuja representação era de uma divindade bicéfala, com duas faces simétricas olhando uma para o passado e a outra para o futuro. De acordo com a posição do Sol na eclíptica, a alegoria insinuava filosoficamente que o futuro seria construído sobre a luz do passado; sugeria também que o passado um dia fora presente e futuro, assim como o futuro seria também um dia, presente e passado.

Com o advento da adoção do cristianismo para o Império Romano, por obra do imperador Constantino, essa relação solsticial com a divindade bicéfala pagã seria alterada, quando então foi substituído o deus Janus pelos santos cristãos João, o Baptista e João, o Evangelista, o que inclusive adequaria e acomodaria essa relação religiosa para o cristianismo. Nesse pormenor a identidade do solstício em Câncer (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul) por influência de Igreja Católica, ficaria relativo a São João Baptista (Esperança - daquele que previu a Luz), enquanto que o solstício em Capricórnio (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul) seria alusivo a São João Evangelista (Reconhecimento - daquele que pregou a Luz).

Cabe aqui uma recomendação importante: Ao se tratar desse apólogo religioso inerente aos solstícios e os santos mencionados, o mesmo estará sempre relacionado ao hemisfério Norte, por extensão isso também ocorre com esse simbolismo no que concerne à Maçonaria. Como o caráter é simbólico todas as referências inerentes aos ciclos da primavera, do verão, do outono e do inverno sempre aludem ao Norte do planeta Terra.

Ainda no que concerne a relação entre o simbolismo solsticial, o cristão e a própria Maçonaria que também adota os mesmos padroeiros, muito embora a Maçonaria não seja uma religião, essa alegoria relativa aos dois solstícios, em última análise, salienta a evidente relação com o deus bicéfalo romano Janus (que tem duas cabeças) às duas transições solsticiais do verão e do inverno na banda setentrional da Terra.

O solstício de verão (junho) ficaria então relacionado a João, o Baptista como aquele que anunciou a vinda da Luz (Jesus, considerado como a Luz do Mundo), enquanto que o solstício de inverno (dezembro) concernente a João, o Evangelista, ficaria relacionado àquele que difundiu a palavra de Jesus (a Luz do Mundo).

Na concepção cristã João Baptista anunciou no verão a Esperança por intermédio da vinda de Jesus que nasceria em pleno inverno como que fazendo renascer, ou voltar novamente a Luz (Natalis Invicti Solis), enquanto que João, o Evangelista pelo Reconhecimento à Luz, passou a difundir a "boa nova" (evangelho - do grego euangélion, pelo latim evangeliu). Nota-se aqui mais uma vez a evidente relação com os cultos solares da antiguidade no hemisfério boreal.

Essa importante representação alegórica igualmente ganharia corpo pela própria semelhança entre os nomes do deus pagão Janus e Joannes (João). A palavra João, em hebraico Iheho-hannam, significa a "graça de Deus" e essa semelhança viria inclusive acomodar a situação pela exclusão e substituição do deus pagão que se chocava com as tradições do cristianismo. Desse modo João Batista e o Evangelista passariam a se associar com as datas solsticiais (junho e dezembro).

Não menos importante também é a relação simbólica configurada na constelação de Câncer lembrada pelo saudoso Irmão José Castellani in "Porque São João, Nosso Padroeiro": "Suas duas estrelas principais (da constelação de Câncer) tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é "creche", também com o significado de presépio, manjedoura, berço. Essa palavra, creche já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente".

Note-se então que a previsão alegórica do nascimento de Jesus em uma manjedoura e outras particularidades inerentes teve origem interpretativa nessa observação mística relativa à constelação de Câncer (junho, solstício de verão no hemisfério Norte) e consignada no outro alinhamento com a constelação de Capricórnio (dezembro, solstício de inverno no hemisfério Norte).

Não obstante ao sentido dessa exegese, vale também a pena mencionar a relação dela com os cultos solares da antiguidade que mais uma vez se evidenciaria e passaria, dentre outros, a influenciar na fixação pela Igreja da data do nascimento de Jesus para a noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa do ano no Norte, e que alude ao solstício relativo à volta do Sol no mitraísmo persa (INRI - Igne Natura Renovatur Integra - o Fogo Renova a Natureza Inteira) e propagada pelo mitraísmo romano na concepção do Nascimento do Sol Triunfante, ou Invicto (Natalis Invicti Solis). Por ocasião dessa longa e fria noite de inverno (no Norte) os homens acendiam fogueiras e faziam oferendas e preces evocando a volta da Luz. Assim o Cristianismo, valendo-se dessa alegoria solsticial fixaria o Natal (nascimento de Jesus) identificando à volta do Sol a partir de Capricórnio para o Norte como a Luz do Mundo, cujo nascimento fora previsto (anunciado em Câncer - verão). Essa associação daria então a João, o Baptista o rótulo daquele que anunciou a vinda da Luz, cuja data comemorativa se fixaria em 24 de junho, bem próxima do solstício de verão no hemisfério Norte que ocorre em 21 de junho - o Sol alinhado com Câncer. Assim também se daria cooptação com João, o Evangelista em 27 de dezembro, cuja data praticamente está conexa ao Natal e ao solstício de inverno no hemisfério Norte que se dá em 21 de dezembro - o Sol alinhado com Capricórnio. Ao Evangelista seria titulado o desígnio daquele que pregou a Luz (a doutrina de Cristo).

São João e a Maçonaria - Antes das considerações propriamente ditas, fica aqui o alerta sobre alguns pontos no tema que não podem ser confundidos:

a) Na matéria há que se vislumbrar que o patrono, ou patronos (São João) se referem à Maçonaria em geral, e não dela apenas a um rito ou costume em particular.

b) Como ritos maçônicos, alguns deles possuem o seu próprio patrono, todavia estes nunca se confundem com os padroeiros gerais da Maçonaria.

c) Ainda existem os protetores regionais da Maçonaria. É o caso, por exemplo, da inglesa e São Jorge (padroeiro da Inglaterra - 23 de abril). Entretanto este não pode ser confundido com as comemorações maçônicas solsticiais relativas a João, o Baptista e João Evangelista.

e) A Maçonaria é oriunda dos canteiros medievais e traz consigo uma forte influência da Igreja. Como atividade profissional à época ela comemora até os dias atuais, ainda que de modo especulativo, as festas solsticiais.

Primitivamente (com aproximadamente 800 anos de história) a Maçonaria era operativa (profissional) e não possuía ritos nem graus. Constituída de maçons livres (nas Lojas livres), muitos desses grupos profissionais, além dos santos relativos às datas solsticiais, também não raras vezes rendiam particularmente preito a outro santo protetor, inclusive a uma santa.

Conforme costume haurido dessas organizações profissionais do passado - Associações Monásticas, Confrarias Leigas e da antiga Francomaçonaria (base da Maçonaria) - e com inegável tempero da Igreja, a prática comemorativa solsticial alcançaria posteriormente a Maçonaria Especulativa e por extensão inclusive a Moderna Maçonaria (primeiro sistema obediencial fundado 1.717).

Isso se explica porque mesmo não sendo a Maçonaria considerada como uma religião, ela foi historicamente criada à sombra de Igreja Católica medieval e dela arregimentou assim uma forte influência que dava ao trabalho, bem como aos seus membros e respectiva profissão, um amoedo religioso.

Em resumo e para aplicação de uma salutar geometria a Maçonaria precisa de uma vez por todas ser despida de ilações fantasistas e equivocada que ainda forçam subsistência como aquelas que a tratam como fosse ela uma Instituição milenar. Ora, essas concepções anacrônicas não cabem mais em pleno século XXI.

Autenticamente a Maçonaria veio a nascer à sombra da Igreja nos Canteiros[3] da Idade Média, portanto não seria novidade nenhuma que sob essa influência a Maçonaria, construtora de igrejas e catedrais, viesse também possuir um patrono religioso.

Assim, essas associações profissionais geralmente se agrupavam em reunião nos solstícios de verão e de inverno, cujas reuniões, além de comemorativas ao padroeiro solsticial, também alcançavam a finalidade de rever os planos das obras, discutir novos contratos, avaliar as atividades econômicas e profissionais e promover ingresso de novos artífices na "Arte de Construir" (iniciar).

Essa relação do Ofício com o verão e com o inverno implicava antes de tudo num aspecto prático e literal da construção, já que no rigor do inverno setentrional pouco se produzia na arte de cortar a pedra calcária, bem como a de com ela se edificar. Efetivamente os trabalhos praticamente permaneciam paralisados na estação hibernal.

Com o final do inverno e o início da primavera - o rigor do clima mais ameno - os trabalhos no canteiro (hoje as Lojas especulativas) retomavam as suas atividades com força e vigor. Assim os labores do ofício iriam atingir o seu auge no verão (dias longos e noites curtas), voltariam a declinar no outono e seriam novamente paralisados no inverno (dias curtos e noites longas).

Vale então a pena mais uma vez salientar que todas as referências feitas às estações do ano (ciclos naturais) nesse arrazoado, se relacionam indistintamente àquelas que ocorrem no hemisfério Norte do nosso Planeta (berço da Maçonaria).

Como as datas solsticiais sucedem nos dias 21 de junho e 21 de dezembro, isto é, muito próximas das datas religiosas comemorativas a João, o Baptista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de dezembro, as mesmas acabariam por se confundir. Isso pode ser perfeitamente observado tomando-se por base a fundação em 1.717 da Primeira Grande Loja em Londres em 24 de junho, dia de São João Baptista (princípio da Moderna Maçonaria[4] - primeiro sistema obediencial). Do mesmo modo também se pode observar nos dias atuais onde a maioria das Obediências tem ainda o costume de dar posse aos Grão-Mestres e Veneráveis das Lojas no dia comemorativo a São João no mês de junho.

Nesse sentido a Moderna Maçonaria como fiel guardiã da tradição usos e costumes da Ordem mantém a alegoria dos solstícios nos seus arcabouços doutrinários, costume esse adquirido desde os primeiros grupos profissionais, cujas representações simbólicas, independente dos contemporâneos Ritos e Trabalhos praticados, se apresentam nos Templos maçônicos.

É o caso do conjunto simbólico composto pelo o Círculo e as Paralelas Tangenciais Verticais, cuja alegoria sugere que o Sol (círculo) não transpõe os trópicos (Câncer e Capricórnio - as paralelas representam João Baptista e Evangelista).

Ainda outros símbolos inerentes: o das Colunas Solsticiais B e J que simbolizam, por exemplo, no Rito Escocês, a passagem dos referidos Trópicos e entre as quais o Equador do Templo; também no Rito Escocês as constelações do Zodíaco que marcam simbolicamente a eclíptica do Sol e as estações do ano, por conseguinte os solstícios e os equinócios; ainda no arcabouço doutrinário maçônico de vertente francesa a Marcha do Mestre exprime a curso aparente do Sol de um para outro hemisfério, etc.

Vale a pena também mencionar que no puro e verdadeiro Rito Escocês o Grau de Aprendiz é aberto com a leitura do Livro da Lei em São João, cap. 1, vs. 1-5 - implica na prevalência da Luz sobre as trevas como mote doutrinário do Grau.

No tocante às tradições, usos e costumes da Maçonaria, as Iniciações operativas (embora muito diferente das que hoje conhecemos) ocorriam nas reuniões semestrais (solsticiais). Naquela oportunidade em muitas associações profissionais o "Aprendiz Admitido" pousava a mão direita sobre o Evangelho de São João para prestar a sua obrigação. Esse costume era assim praticado porque as datas iniciáticas coincidiam com aquelas relativas aos santos protetores - a Igreja ditava as regras.

Como à época não existia ainda a imprensa[5] e a Bíblia era propriedade apenas da Igreja, cujo texto era compilado à mão em papel grosseiro (de gramatura alta) e resultava em um volume da Bíblia imenso, pesado e incomodo para o transporte e manuseio. Devido a esse particular o Iniciando prestava simbolicamente a sua obrigação pousando a mão direita apenas sobre o Evangelho de São João, que era geralmente reduzido e adequado para a ocasião à sua primeira página.

Assim se explica o hábito, segundo a maioria dos Ritos, do notório uso do título distintivo - as Lojas de São João, cujos trabalhos são abertos "À Gloria do G\A\D\U\ e em Honra a São João nosso Padroeiro", ou ainda: "Uma Loja de São João, Justa, Perfeita e Regular".

Obviamente como a questão envolve os dois solstícios, englobam-se como patronos também os dois São João, o Batista e o Evangelista. Até porque como a Maçonaria é uma Obra de Luz, nada mais oportuno do que celebrá-la simbolicamente (sem conotação religiosa) através daquele que previu a Luz e também daquele que propagou a Luz.

Nesse sentido, em se tratando dos padroeiros maçônicos cujo nome é João, muitos equivocadamente ainda teimam em propagar o nome de outros S. João, a exemplo do Esmoler (também conhecido como Hospitalário ou de Jerusalém) que não tem qualquer relação com a Maçonaria Operativa. Pior ainda foi a invenção do tal "da S. João da Escócia" que nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.

Alguns equivocadamente ainda associam um santo padroeiro inerente a um Rito em particular e querem generalizá-lo como patrono de toda a Maçonaria. Daí a razão dessa propagação desmedida que tem causado muitas dúvidas para o entendimento de muitos outros.

Aliás, é oportuno salientar que a tal "generalização" tem sido uma verdadeira erva daninha na prática e interpretação maçônica, geralmente adubada pelos incautos que ao se referirem a um Rito específico o imaginam como se fosse ele o único representante de toda a Maçonaria. Inquestionavelmente esse despautério não condiz com a Verdade, já que os Ritos e os Trabalhos do Craft são partes integrantes da Maçonaria. Embora a sua espinha dorsal seja única, cada Rito ou Trabalho (costume) possui a sua particularidade geralmente oriunda da sua doutrina, da sua cultura e da sua vertente maçônica (inglesa ou francesa). A Maçonaria Simbólica Universal é única, porém composta por vários Ritos e Trabalhos do Craft.

A chave da compreensão está no conhecimento e pratica da história autêntica da Sublime Instituição - acadêmica por excelência. Antes de se mencionar opiniões de achistas e crédulos em escritos comprometidos (água contaminada), quando não repletos de opiniões ocultistas hauridas de crenças pessoais, melhor seria primeiro atender a virtude da prudência na observação dos fatos.

Retomando o assunto inerente ao mote desse arrazoado e por tudo o que até aqui fora sobre ele foi mencionado é que a Maçonaria desde o seu período operativo vem se servindo da relação Homem-Natureza, cujo palco alegórico de outrora era o canteiro da obra. Atualmente essa analogia está na topografia e na decoração dos templos maçônicos, bem como nas doutrinas específicas dos Ritos e Trabalhos da Moderna Maçonaria Simbólica, sejam eles de conceito deísta ou teísta.

Concluindo: por razões óbvias, despido de qualquer relação com uma religião ou dogma específico, o padroado da Maçonaria Universal (não de um rito específico), considerada a característica especulativa da Instituição como "Obra de Luz" sugerem como patronos os dois personagens ligados simbolicamente à Luz - João, o Baptista e João, o Evangelista.

PEDRO JUK      jukirm@hotmail.com

Morretes, Paraná, AGOSTO/2.014.

NOTAS

[1] Solstício (Do latim Solstitiu). Substantivo masculino. Época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual cessa de afastar-se do equador. Os solstícios situam-se, respectivamente, nos dias 22 ou 23 (na intenção de uniformização- dia 21) de junho para a maior declinação boreal, e nos dias 22 ou 23 (por critério de uniformização - dia 21) de dezembro para a maior declinação austral do Sol. No hemisfério norte, a primeira data se denomina solstício de verão e a segunda, solstício de inverno; e, como as estações são opostas nos dois hemisférios, essas denominações invertem-se no hemisfério sul.

[2] Equinócio (Do latim Aequinoctiu). Substantivo masculino. 1. Ponto da órbita da Terra em que se registra igual duração do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro (convencionado para o dia 21). 2. Qualquer das duas interseções do círculo da eclíptica com o círculo do equador celeste: equinócio da primavera, ou ponto vernal, e equinócio do outono, ou ponto de Libra. 3. Instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste.

[3] Canteiros - antigos construtores medievais de igrejas e catedrais, corporações formadas sob a influência da Igreja na Idade Média.

[4] Moderna Maçonaria - composta pela Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, cuja marca inicial se deu com o advento da fundação Primeira Grande Loja em Londres pelas Lojas da Taberna do Ganso e a Grelha, do Copázio e as Uvas, da Coroa e da Macieira. Naquela oportunidade era então criado o primeiro sistema obediencial do mundo maçônico. Não se deve confundir o fato como princípio da Maçonaria Especulativa, já que esta se deu documentalmente em 1.600 na Escócia com a admissão do latifundiário John Boswel na Loja Capela de Maria (Chapel's Mary Lodge).

[5] Imprensa - Johannes Guttenberg em 1.440 desenvolve a tecnologia da prensa móvel, utilizando os tipos móveis - caracteres avulsos gravados em blocos de madeira ou chumbo, que eram arrumados numa tábua para formar palavras e frases do texto para impressão.


BIBLIOGRAFIA AUXILIAR

SPOLADORE, Hercule - Santos Padroeiros da Maçonaria, Diário JB NEWS nº 1.412, Florianópolis, SC, 2.014.

CASTELLANI, José - Artigo intitulado Porque São João, "Nosso Padroeiro", www.lojasmaconicas.com.br, São Paulo, Capital, 2.001.

CASTELLANI, José - Maçonaria e Astrologia - Editora Landmark - São Paulo, 2.000.

CASTELLANI, José- As Origens Históricas da Mística Maçônica - Editora Landmark - São Paulo, 2004.

CARVALHO, Assis - Símbolos Maçônicos e Suas Origens - A Trolha - Londrina, 1.990.

CARR, Harry - Freemasons at Work - Lewis Masonic, 1.992.

HINBERG, Richard - Celebrando os Solstícios - Madras Editora Ltda. - São Paulo, 2.002.

CHARLIER, René Joseph - Pequeno Ensaio de Simbólica Maçônica - Edições Futuro - São Paulo, 1.964.

JUK, Pedro - Abóbada do Templo Maçônico - R∴E∴A∴A∴ - Coletânea 6, pg. 97 - Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2.003.

JUK, Pedro - E o Topo da Coluna do Norte, Conclusões? - INBRAPEM, Volume 4, - Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2.007.

JUK, Pedro - Alegoria das Colunas Zodiacais - REAA, Anais do VII Simpósio, Academia Campinense Maçônica de Letras, Campinas, SP, 2.013.


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